domingo, 30 de julho de 2017

Diário e reflexões - 300717



Pôr do Sol em Foz do Iguaçu. Foto de William Mendes.

Refeição Cultural

Domingo. Estou me preparando para iniciar mais uma semana de lutas pela entidade de autogestão em saúde dos trabalhadores do Banco do Brasil, onde sou diretor eleito pelos associados. Será uma semana intensa que só terminará no sábado de manhã, quando eu chegar das Conferências de Saúde que faremos na Bahia e em Sergipe.

Hoje fiz uma caminhada de 20k em 3h30' como parte do treinamento que estou tentando fazer para chegar bem à Romaria que farei daqui alguns dias lá em Minas Gerais. Com o passar dos anos, a gente acaba conhecendo melhor o nosso corpo. Ao optar por caminhar ao invés de correr nas últimas semanas, porque tenho que preparar o corpo para andar por horas a fio, minha pressão arterial aumentou (por diversos motivos, na verdade). Por uma questão de saúde, após a Romaria será preciso retomar com vigor as corridas porque só elas abaixam minha pressão.

Não ando com muito ânimo para escrever por causa da tristeza que tenho carregado ao ter consciência de tudo que está se passando com o mundo ao meu redor, com o meu País vilipendiado pelos golpistas, com a ascensão do fascismo e com o predomínio do ódio nos corações das pessoas neste quarto da história. Não tem como não sofrer sendo um ser humano que se importa com os outros, com as pessoas de minha classe social - a classe trabalhadora -, não tem como não sofrer com a destruição da natureza e esgotamento dos recursos naturais por causa da ganância e do consumo do sistema capitalista; sofrem aqueles que em sua ética, no seu caráter, se importam com o bem comum.


Adaptação leve e prazerosa da
obra de Jack London.

Mas eu me esforço em sentar e escrever. Falar para o mundo, por mais que seja para poucas pessoas (se comparado com qualquer dos representantes das ideias que combato no mundo, que têm milhões de seguidores), falar o que pensamos e o que defendemos é preciso. Salvar o mundo, salvar a natureza, salvar as pessoas, só é possível se a gente não desistir de fazer o que fazemos: lutar com as armas que temos e no espaço social em que estamos empreendendo a luta. Minhas armas são minhas palavras e minhas atitudes.

Nesta semana que passou, eu li um livro ilustrado que comprei pela internet a pedido de meu filho e, por desatenção, comprei errado. Era para comprar o romance do escritor americano Jack London, O chamado da floresta (1903), e eu comprei uma edição adaptada por Sonia Robatto, com ilustrações. Leitura agradável e valeu a pena. Fiquei pensando na estória de Buck, um filhote de são-bernardo com collie, roubado na Califórnia e levado para o Alasca. O destino reservou uma vida dura para Buck a partir de então, mas com o tempo, ele passou a ouvir o chamado da floresta, atiçando em si a busca por sua verdadeira natureza.


O totalitarismo que o mundo temia no século 20 virou o
totalitarismo inesperado dos donos da mídia,
manipulando o mundo.

Assisti ao filme 1984, na primeira versão para o cinema, de 1956. A obra é baseada na ficção de George Orwell 1984 (1949). Edmond O'Brien interpreta o personagem principal Winston Smith e a bela Jan Sterling interpreta Julia. Michael Redgrave é o General O'Connor. Gostei mais desta versão em preto e branco do que da outra que saiu em 1984, também inglesa. Ano passado, fiz uma série de postagens enquanto relia o clássico de Orwell e enquanto o Grande Irmão do mundo real (Globo/PIG) aplicava novo golpe de Estado ao Brasil (ler postagens com referência à obra 1984 AQUI). Ao saber o final da estória ficcional e ao ver a história real do mundo dominado pelos donos dos meios comerciais de manipulação global, eu me pergunto se haverá esperanças. Como estão as coisas, não. Só se houver uma reviravolta no controle dos meios midiáticos, inverter-se os donos.

Eu estive com a família em Foz do Iguaçu dias atrás e quis fazer umas postagens de fotos. Não consegui. Aquele mundo das águas é uma das coisas mais fantásticas do planeta Terra. Recomendo que cada pessoa que não conhece as Cataratas do Iguaçu se programe para ir até lá. É uma das maravilhas do mundo.


Maravilha do nosso mundo, as Cataratas do Iguaçu.
Foto de William Mendes.

Por fim, eu comecei a ler neste fim de semana o icônico Casa-grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre. Meu desejo era ter acabado o primeiro capítulo. Li por horas no sábado, mas não consegui. Porque li devagar e com reflexões. Só a Introdução de Freyre já é grande. Comecei a entender qual a tese que o autor desenvolve no ensaio.

Eu refleti que este será o último livro do ano porque preciso aproveitar meus finais de semana para trabalhar em meus dois blogs e já não fiz isso neste fim de semana.

Fim de minhas reflexões. Um abraço aos amig@s que passaram pela postagem e partilharam minhas palavras.

William

sábado, 29 de julho de 2017

Artigo: Em defesa da Venezuela - Boaventura Sousa Santos


Apresentação do Blog:

O artigo do professor e intelectual português Boaventura é bastante comedido. Ele é um democrata e gostaria que o povo venezuelano encontrasse saída para seus problemas através da política, ou seja, de forma pacífica: no voto.

Boaventura chama a atenção para o já clássico papel da imprensa empresarial (nosso PIG). As corporações privadas donas da comunicação nos países e no mundo atuam como máquinas de manipulação de massa. Aqui foi igualzinho na derrubada do governo e fim da democracia! 

Qual o cidadão de meu país que não se viu ou sendo contra a manipulação do PIG aqui na derrubada de uma presidenta legitimamente eleita, e sem crime, com o Big Brother 24 horas no ataque, ou o cidadão vestiu verde e amarelo e bateu panela contra a "corrupção" para colocar corruptos na máquina estatal em todos os níveis. Agora perderam todos os direitos sociais de décadas de conquistas. E vem mais por aí, o fim da aposentadoria, e a fome e a violência urbana como nunca sonharam...

Ele chega a tocar na questão central da crise na Venezuela, a questão da disputa imperialista norte-americana pelos poços de petróleo que sobraram no mundo. Já escrevi a respeito aqui no Blog. Quando me manifestei sobre a questão, o alvo era o Pré-sal brasileiro. Depois do Iraque, dos Países Árabes, seria o Brasil e a Venezuela. 

Já derrubaram o governo do PT, mais nacionalista, e colocaram lacaios bandidos para entregarem o Pré-sal e a Petrobras. Alvo atingido! Missão cumprida pelos nossos lesas-pátrias. Agora é a hora de derrubar o governo venezuelano para instalar o domínio sobre o óleo de lá.

Faltou Boaventura dizer que a queda brutal do preço do barril de petróleo é resultado de diversos fatores de disputa política e de hegemonia mundial. Não é uma simples ação de oferta e procura com as visões simplistas de alguns manuais liberais de economia.

Será que o povo venezuelano antes miserável, e depois beneficiado com as políticas de melhor distribuição de renda e políticas afirmativas do chavismo será dócil como foram os milhões de brasileiros que pouco fizeram para enfrentar o golpe e remover do aparelho do Estado os golpistas e empresários apoiadores?

Veremos a partir deste domingo 30 de julho.

William




Em defesa da Venezuela - Boaventura Sousa Santos


Estou chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela


29 de Julho de 2017


A Venezuela vive um dos momentos mais críticos da sua história. Acompanho crítica e solidariamente a revolução bolivariana desde o início. As conquistas sociais das últimas duas décadas são indiscutíveis. Para o provar basta consultar o relatório da ONU de 2016 sobre a evolução do índice de desenvolvimento humano. Diz o relatório: “O índice de desenvolvimento humano (IDH) da Venezuela em 2015 foi de 0.767 — o que colocou o país na categoria de elevado desenvolvimento humano —, posicionando-o em 71.º de entre 188 países e territórios. Tal classificação é partilhada com a Turquia.” De 1990 a 2015, o IDH da Venezuela aumentou de 0.634 para 0.767, um aumento de 20.9%. Entre 1990 e 2015, a esperança de vida ao nascer subiu 4,6 anos, o período médio de escolaridade aumentou 4,8 anos e os anos de escolaridade média geral aumentaram 3,8 anos. O rendimento nacional bruto (RNB) per capita aumentou cerca de 5,4% entre 1990 e 2015. De notar que estes progressos foram obtidos em democracia, apenas momentaneamente interrompida pela tentativa de golpe de Estado em 2002 protagonizada pela oposição com o apoio ativo dos EUA.


A morte prematura de Hugo Chávez em 2013 e a queda do preço do petróleo em 2014 causou um abalo profundo nos processos de transformação social então em curso. A liderança carismática de Chávez não tinha sucessor, a vitória de Nicolás Maduro nas eleições que se seguiram foi por escassa margem, o novo Presidente não estava preparado para tão complexas tarefas de governo e a oposição (internamente muito dividida) sentiu que o seu momento tinha chegado, no que foi, mais uma vez, apoiada pelos EUA, sobretudo quando em 2015 e de novo em 2017 o Presidente Obama considerou a Venezuela como uma "ameaça à segurança nacional dos EUA", uma declaração que muita gente considerou exagerada, se não mesmo ridícula, mas que, como explico adiante, tinha toda a lógica (do ponto de vista dos EUA, claro). A situação foi-se deteriorando até que, em dezembro de 2015, a oposição conquistou a maioria na Assembleia Nacional. O Tribunal Supremo suspendeu quatro deputados por alegada fraude eleitoral, a Assembleia Nacional desobedeceu, e a partir daí a confrontação institucional agravou-se e foi progressivamente alastrando para a rua, alimentada também pela grave crise económica e de abastecimentos que entretanto explodiu. Mais de cem mortos, uma situação caótica. Entretanto, o Presidente Maduro tomou a iniciativa de convocar uma Assembleia Constituinte (AC) para o dia 30 de Julho e os EUA ameaçam com mais sanções se as eleições ocorrerem. É sabido que esta iniciativa visa ultrapassar a obstrução da Assembleia Nacional dominada pela oposição.


Em 26 de maio passado assinei um manifesto elaborado por intelectuais e políticos venezuelanos de várias tendências políticas, apelando aos partidos e grupos sociais em confronto para parar a violência nas ruas e iniciar um debate que permitisse uma saída não violenta, democrática e sem ingerência dos EUA. Decidi então não voltar a pronunciar-me sobre a crise venezuelana. Por que o faço hoje? Porque estou chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela, um enviesamento que recorre a todos os meios para demonizar um governo legitimamente eleito, atiçar o incêndio social e político e legitimar uma intervenção estrangeira de consequências incalculáveis. A imprensa espanhola vai ao ponto de embarcar na pós-verdade, difundindo notícias falsas a respeito da posição do Governo português. Pronuncio-me animado pelo bom senso e equilíbrio que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tem revelado sobre este tema. A história recente diz-nos que as sanções económicas afetam mais os cidadãos inocentes que os governos. Basta recordar as mais de 500.000 crianças que, segundo o relatório da ONU de 1995, morreram no Iraque em resultado das sanções impostas depois da guerra do Golfo Pérsico. Lembremos também que vive na Venezuela meio milhão de portugueses ou lusodescendentes. A história recente também nos diz que nenhuma democracia sai fortalecida de uma intervenção estrangeira.


Os desacertos de um governo democrático resolvem-se por via democrática, e ela será tanto mais consistente quanto menos interferência externa sofrer. O governo da revolução bolivariana é democraticamente legítimo e ao longo de muitas eleições nos últimos 20 anos nunca deu sinais de não respeitar os resultados destas. Perdeu várias e pode perder a próxima, e só será de criticar se não respeitar os resultados. Mas não se pode negar que o Presidente Maduro tem legitimidade constitucional para convocar a Assembleia Constituinte. Claro que os venezuelanos (incluindo muitos chavistas críticos) podem legitimamente questionar a sua oportunidade, sobretudo tendo em mente que dispõem da Constituição de 1999, promovida pelo Presidente Chávez, e têm meios democráticos para manifestar esse questionamento no próximo domingo. Mas nada disso justifica o clima insurrecional que a oposição radicalizou nas últimas semanas e que tem por objetivo, não corrigir os erros da revolução bolivariana, mas sim pôr-lhe fim e impor as receitas neoliberais (como está a acontecer no Brasil e na Argentina), com tudo o que isso significará para as maiorias pobres da Venezuela. O que deve preocupar os democratas, embora tal não preocupe os media globais que já tomaram partido pela oposição, é o modo como estão a ser selecionados os candidatos. Se, como se suspeita, os aparelhos burocráticos do partido do governo sequestrarem o impulso participativo das classes populares, o objetivo da AC de ampliar democraticamente a força política da base social de apoio à revolução terá sido frustrado.


Para compreendermos por que provavelmente não haverá saída não violenta para a crise da Venezuela temos de saber o que está em causa no plano geoestratégico global. O que está em causa são as maiores reservas de petróleo do mundo existentes na Venezuela. Para os EUA, é crucial para o seu domínio global manter o controle das reservas de petróleo do mundo. Qualquer país, por mais democrático, que tenha este recurso estratégico e não o torne acessível às multinacionais petrolíferas, na maioria, norte-americanas, põe-se na mira de uma intervenção imperial. A ameaça à segurança nacional, de que fala o Presidente dos EUA, não está sequer apenas no acesso ao petróleo, está sobretudo no facto de o comércio mundial do petróleo ser denominado em dólares, o verdadeiro núcleo do poder dos EUA, já que nenhum outro país tem o privilégio de imprimir as notas que bem entender sem isso afetar significativamente o seu valor monetário. Foi por esta razão que o Iraque foi invadido e o Médio Oriente e a Líbia arrasados (neste último caso, com a cumplicidade ativa da França de Sarkozy). Pela mesma razão, houve ingerência, hoje documentada, na crise brasileira, pois a exploração do petróleo do pré-sal estava nas mãos dos brasileiros. Pela mesma razão, o Irão voltou a estar em perigo. Pela mesma razão, a revolução bolivariana tem de cair sem ter tido a oportunidade de corrigir democraticamente os graves erros que os seus dirigentes cometeram nos últimos anos. Sem ingerência externa, estou seguro de que a Venezuela saberia encontrar uma solução não violenta e democrática. Infelizmente, o que está no terreno é usar todos os meios para virar os pobres contra o chavismo, a base social da revolução bolivariana e os que mais beneficiaram com ela. E, concomitantemente com isso, provocar uma ruptura nas Forças Armadas e um consequente golpe militar que deponha Maduro. A política externa da Europa (se de tal se pode falar) podia ser uma força moderadora se, entretanto, não tivesse perdido a alma.


Fonte: www.publico.pt

terça-feira, 25 de julho de 2017

Diário e reflexões - 250717 (Estudar e lutar...)


Meu sonho de leitura e autoconhecimento
 é maior que meu tempo disponível
para o deleite dos estudos.

Amanhã é meu último dia de férias. Tirei dez dias restantes de minhas férias adquiridas ano passado. (e pensar que todos os direitos dos trabalhadores estão sendo extintos pelos golpistas da Casa Grande e seus lacaios).

Foi bom estar principalmente com meu filho amado, que mora longe dos pais por causa dos estudos. Fizemos uma visita deliciosa às Cataratas do Iguaçu. Bati fotos bem legais daquela maravilha de nosso mundo.

Como ser político e politizado, não alienado, sofri nestes dias do mesmo jeito que sofro diariamente ao ter consciência da realidade política em meu País, com a diferença que no dia a dia do mandato não tenho muito tempo de refletir a política estando em minha jornada ininterrupta no front de batalha da Cassi, onde ponho toda a minha vida na tarefa que me designaram. Defender os associados e a Caixa de Assistência virou quase que meu ar desde que aceitei essa tarefa.

Foram tantas as reflexões nesses dias que não tive nenhuma vontade de escrever. Nem de falar, pra ser sincero. Ao mesmo tempo que gostaria de ver a população se revoltar e partir para o confronto com os golpistas, recuperando os direitos já ceifados e avançando mais nas questões coletivas do povo, sei que isso não é provável que aconteça. Nossa gênese é de um povo explorado é pacífico.

Ao retornar para minha rotina de lutas, sei que terei um dos semestres mais difíceis de minha tarefa de defesa da Cassi. Os três anos anteriores de nosso mandato já foram muito difíceis, mas vencemos batalhas contra o Banco e o governo e contra o desconhecimento, que fere de morte a Cassi. Agora o cenário está mais complicado e vamos ter que reaglutinar todos os segmentos da comunidade dos funcionários do Banco do Brasil e organizar mobilização contra os ataques pesados deste momento.

Eu fiz um esforço fenomenal para ler no primeiro semestre muitos livros nas poucas horas vagas que tenho em minha vida: foram mais de 30 obras. O desejo é sempre maior que a capacidade de leitura. Fui ver e reparei que já fiz outra pilha de livros em Brasília igual a que tenho em Osasco, minha terra. Mas sinto que as leituras acabaram neste ano. Minha agenda de gestão e luta e o que vem pela frente não me permitirão seguir lendo.




Peguei um último livro na pilha para tentar ler neste semestre, mas vai saber se terei êxito na empreitada! É o icônico livro e tão na moda para referências políticas e sociais - Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freyre. O bicho é um grosso volume.

Neste semestre, vou dedicar algumas horas livres ao trabalho de memorial de meus blogs, o de cultura e o de trabalho. Já venho fazendo isso porque entendo ser importante o registro de nossas lutas sociais e nossa visão dos momentos históricos pelos quais passamos.

Eu assinei a revista Carta Capital, e recebi a primeira edição nesta semana. Eu já sei (ou percebo) quase tudo que a revista traz de informação. Assinei para defender a revista e o trabalho jornalístico que ela realiza. Eu gostaria muito que as pessoas progressistas apoiassem a revista para que ela continue viva, porque o Mino Carta e sua equipe fazem o que há de melhor no jornalismo do Brasil e estão sem recursos para manter sua pequena estrutura funcionando. Por favor, pensem a respeito.

É isso. Abraços aos leitores amig@s.

William

domingo, 23 de julho de 2017

Leitura: A guerra dos mundos (1898) - H. G. Wells



Leitura de mais um clássico da literatura mundial.
Bela edição de A guerra dos mundos, de H. G.  Wells.

Refeição Cultural

"Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo era atenta e minuciosamente observado por inteligências superiores à do homem e, no entanto, igualmente mortais; que, enquanto os homens se ocupavam de seus vários interesses, eram examinados e estudados, talvez com o mesmo zelo com que alguém munido de microscópio examina as efêmeras criaturas que fervilham e se multiplicam numa gota d'água. Com infinito comodismo, os homens iam de um lado para outro do globo, cuidando de seus pequenos afazeres, na serena segurança de seu império sobre a matéria...."

"(...) No entanto, através do abismo do espaço, mentes que em relação à nossa são como a nossa em relação às dos animais que perecem, intelectos vastos, frios e insensíveis, lançavam sobre este planeta olhares invejosos e, lenta e inexoravelmente, traçavam planos contra nós. E, no início do século XX, veio a grande desilusão..."


Assim começa este clássico fantástico de Herbert George Wells, ou H. G. Wells, publicado no final do século 19 na Inglaterra. Décadas mais tarde (1938), o cineasta Orson Welles adaptaria a ficção para uma interpretação em rádio que traria alvoroço nos Estados Unidos porque parte dos ouvintes achou que a transmissão não era ficção e sim realidade.

Li esta obra neste mês de julho. Ela me foi apresentada por uma estante de livraria, por causa da beleza da edição. Ela me fisgou. Ao ver o livro, tateá-lo e folhear o volume, não resisti e comprei. Esta edição da Editora Schwarcz é belíssima e traz as ilustrações feitas em 1906 pelo brasileiro Henrique Alves Corrêa.


Ilustrações de 1906, do brasileiro Henrique Alves Corrêa.

Ler um clássico da literatura mundial é sempre um passo adiante no autoconhecimento e na busca por se lapidar como um ser humano melhor. Eu alimento grande sonho de ler dezenas e dezenas de obras clássicas de todas as línguas e todas as origens deste mundo. Recomendo aos leitores deste Blog a experiência de ler A guerra dos mundos, de H. G. Wells.

O livro traz um prefácio bem interessante de Braulio Tavares e uma introdução de um membro da H. G. Wells Society, Brian Aldiss, que recomendo ler somente após a leitura do livro, porque revelam partes da obra. Tem também uma entrevista com Wells e (Orson) Welles ao final bem interessante.


Comentário final

Estou tão amargo, tão triste com o que estão fazendo com o nosso País, que fico o tempo todo pensando se escrevo ou não escrevo o que vai em meus pensamentos.

Passei décadas de minha existência lutando para diminuir o ódio que sentia dos membros da casa-grande e seus lacaios e capitães do mato nesta sociedade humana em que nasci e cresci. Levei uma vida toda incomodado com a iniquidade, com a exploração da classe trabalhadora a qual pertenço, e depois de aderir à luta de classes pelas vias democráticas de transformação social vem um novo golpe de Estado e acaba todo o processo democrático. Os vilões voltam a tomar conta de todos os órgãos do Estado para retroceder conquistas e direitos humanos em mais de século. E o povo está como sempre esteve, anestesiado com o pão e circo da manipulação proporcionada pela casa-grande.

Não quero falar a respeito. Minha cabeça está a mil, um turbilhão de sentimentos ruins gira em minha mente. O que fazer? Onde me colocar nessa situação toda? Como agir contra o golpe com todos os contratos sociais que assinamos e estamos cumprindo com fidelidade canina enquanto ator social? Eu já vivo diariamente a minha guerra, no front de batalha para o qual me destacaram.


Espaço Vital - É disso que se tratam as guerras diversas

Ao ler A guerra dos mundos, tive uma percepção clara para o momento presente na metáfora Marcianos/Capitalistas e entendo que os golpistas brasileiros são parte de uma engrenagem maior no mundo, na disputa de hegemonia de poder, semelhante a outras épocas que a humanidade viveu. Não adianta querer argumentar ou dialogar com os marcianos; não adiantava querer argumentar ou dialogar com os nazistas; não adiantava querer argumentar ou dialogar com os imperialistas que chegaram às Américas ou aos países africanos para explorar e roubar nossas riquezas para levar aos palácios na Europa.

Ou se resistia em nome da própria existência, da existência da comunidade e cultura invadidas, e se morria lutando, ou se morria por extermínio, por inação. Não adianta querer argumentar ou dialogar com os deputados e senadores do golpe, com a Presidência do golpe, com a Justiça do golpe, com os meios de imprensa do golpe.

Apesar de meus pares humanos não se atentarem para a história do passado deles próprios, foi isso que aconteceu. É assim que funciona. Não há bandeira branca ou pacto social possível com esses golpistas encastelados nos espaços de poder estatal destruindo o Brasil e os direitos dos brasileiros em benefício deles mesmos. NÃO HÁ!

Acho que estamos na mesma condição real nesta quadra da história que a condição dos humanos enfrentando os marcianos na ficção - não há convivência entre ambos (até porque não há mais política, mataram ela mesmo).

É um pouquinho do que penso...

William

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Brasil - A classe trabalhadora brasileira não vai fazer nada?



Eu fico me perguntando até quando o povo enganado pelos meios de comunicação dos golpistas, uns 200 milhões de seres humanos brasileiros que não vivem de renda, até quando o povo vai ficar se fodendo sem emprego, sem direitos, sem nada, até quando os milhões de seres sem renda e herança vão ficar vendo a decretação da morte deles mesmos, o povo, de forma miserável, sem fazer nada, sem fazer uma guerra civil, sem incomodar a Casa Grande, sem interromper as transmissões dos veículos de manipulação dos golpistas. Até quando?

Até que ponto vale a pena sobreviver (de forma miserável) sem lutar pela sua própria condição de existência com dignidade?

Por que que os 200 milhões de despossuídos de patrimônio e renda, que vivem da venda de sua força de trabalho não reagem ao que fizeram com o Brasil?

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Os miseráveis - Brasil pós Golpe avança para o século 19



(redação atualizada às 10h de 10/7/17)




Refeição Cultural

"Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis" (Prefácio de Os miseráveis, Victor Hugo, 1862)


Neste domingo, assistimos ao filme Os miseráveis (1978), uma adaptação inglesa com direção de Glenn Jordan. Minha edição do filme é de uma coleção da Folha "Ditabranda" de São Paulo. O livro-encarte que vem com o filme traz informações e avaliações bem interessantes (62 páginas). Vale a pena encontrar o material em algum sebo por aí.

Em 2016, havia assistido ao filme musical lançado em 2012 e também refleti muito a respeito do conteúdo da obra de Victor Hugo. Ler minhas reflexões AQUI.

Em 2015, comecei a ler este clássico de Victor Hugo, com duas mil páginas. Cheguei a ler 150 páginas (ler comentário AQUI), mas meu trabalho não me permitiu embalar na leitura, porque aquele ano foi de muita dedicação às causas da Cassi, e foi preciso imersão total numa luta nacional que ajudamos a organizar pela questão do déficit do Plano de Associados. Só de textos de nosso mandato, foram 208 postagens feitas no Blog Categoria Bancária.

Achei o filme muito bem feito. Também gostei do filme musical de 2012. Ainda vou retomar a obra de Victor Hugo e terminar os dois volumes.


OS MISERÁVEIS DO BRASIL

Neste momento em que escrevo, o nosso querido Brasil passa por um Golpe de Estado que tirou do poder uma presidenta eleita por 54,5 milhões de votos em 2014, Dilma Rousseff. Bandos de canalhas instalados no Congresso Nacional e em outros órgãos estatais e do poder destituíram uma mulher sem crime algum. O Golpe interrompeu os mandatos presidenciais do Partido dos Trabalhadores, que se iniciaram em 2003 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao lembrar dos miseráveis, dos milhões, dos bilhões de miseráveis do mundo, miseráveis por causa da ganância de uns poucos capitalistas donos de tudo, miseráveis por causa de decisões políticas, por causa da injustiça dos poderosos e do Estado, miseráveis por falta de políticas públicas que interfiram na vida de toda uma coletividade e que deem oportunidades iguais para aqueles que sempre estiveram abandonados à própria sorte, sinto uma raiva profunda dos golpistas e de todos que apoiaram o Golpe. E sinto uma necessidade de lutar contra toda essa iniquidade instalada em meu País.

Os avanços dos governos do Partido dos Trabalhadores para a soberania do Brasil e para o conjunto do povo brasileiro após a eleição de Lula em 2002 marcaram a nossa história. O Brasil que volta ao mapa da fome após o Golpe foi o que mais havia distribuído renda no mundo nos anos dois mil. Os índices desgraçados de desemprego no pós Golpe substituíram o quase pleno emprego (e com direitos sociais e aumento real de salários em 13 anos seguidos). Agora os golpistas estão destruindo direitos históricos para o povo brasileiro voltar ao século 19, tempo da escravidão e do proletariado da venda de mão de obra por um pedaço de pão (que os milhões de Jean Valjeans precisam para viver).

Chegamos a um ponto do Golpe no Brasil onde não há alternativas ao povo brasileiro que não seja reconhecer que este mesmo povo foi enganado pelos donos dos meios de comunicação - empresários corruptos -, que foram enganados pelo partido que perdeu a eleição em 2014, o PSDB, e que precisam enfrentar o conjunto dos golpistas e seus apoiadores em todos os órgãos estatais onde eles se enfiaram.

Se o povo não tomar coragem, reagir e lutar pela derrubada deste Golpe e pela volta da democracia com reversão de todas as reformas e das doações lesa-pátrias já feitas pelos golpistas como, por exemplo, a Petrobras e o Pré-sal, de nada vai adiantar uma eleição direta se não forem desfeitas todas as merdas já aprovadas pelos golpistas sem-vergonhas.

É o que eu penso como cidadão que já dedicou mais de vinte anos às lutas sociais e da classe trabalhadora a qual pertence e representa.

William

sábado, 8 de julho de 2017

Diário e reflexões - 080717 (Registro das histórias de lutas)



Aos poucos, estou organizando nossa contribuição à
Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.

Refeição Cultural

O sábado foi de descanso, após uma sequência longa de dias de trabalho e lutas pela nossa entidade de autogestão em saúde (Cassi), na qual atuo como gestor eleito pelos trabalhadores.

A primeira coisa que fiz hoje foi dormir um pouco mais. Depois saí para caminhar, coisa que não pude fazer por vários dias. Li um pouco de Eduardo Galeano - Días y noches de amor y guerra (1986).

Estava refletindo sobre a vida e sobre a política. A rápida destruição do Brasil e dos avanços sociais para o povo brasileiro com o Golpe realizado pela direita fascista e pela Casa Grande é de fazer chorar, é de causar depressão, é de nos deixar catatônicos frente a tanto desfazimento do País que vínhamos construindo desde 2003.

Até o primeiro semestre de 2014, o Brasil era um país com recordes de inclusão social, combate à fome, estava quase no pleno emprego, aumentos reais de salários todos os anos e aumento do registro em Carteira de Trabalho e com a economia interna muito mais aquecida que outros países do mundo no pós crise de 2008, com aumento de direitos e não redução. Aí o PSDB e o PIG perdem a 4ª eleição presidencial seguida e decidem cumprir a promessa de que a presidenta eleita não iria governar. ("Só para encher o saco do PT", o derrotado Aécio Neves lidera a destruição da economia e do País)

Agora o nosso País está sendo desmanchado por canalhas unidos nos três poderes, em conjunto com o 4º poder, a imprensa partidária (PIG). Não há institucionalidade a recorrer mais dentro da democracia burguesa, republicana. O povo e a classe trabalhadora vão ser re-transformados em escravos e semoventes.

Parar um instante e relembrar essa realidade transformada em menos de três anos nos dá uma tristeza profunda. Mas morrer ou desistir não é uma opção. Então, é lutar, e eu fui destacado para uma frente de batalha na luta de classes desde 2014. É nela que tenho colocado toda a minha vida, minha inteligência, minha saúde e minha paixão militante.


REGISTRAR A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES É FUNDAMENTAL

Mesmo trabalhando de forma ininterrupta pela causa que defendo, a Cassi e os direitos dos trabalhadores associados que representamos, estou há três anos registrando tudo que estamos fazendo, que estamos encaminhando, as lutas que estamos empreendendo.

Faço isso em dois blogs, o Categoria Bancária, que transformei no espaço para falar da Cassi e das questões de saúde afetas a ela e para prestar contas do nosso trabalho, e o Refeitório Cultural, onde falo como cidadão, mas um cidadão engajado na cultura e nas dimensões humanas de nossa classe trabalhadora.

Temos muito pouco registro da história de lutas da classe trabalhadora. A maior parte é oral e muito se perde ao longo do tempo.

Eu tinha um projeto até 2013 de escrever dois livros sobre o movimento sindical bancário. Iria escrever um sobre as campanhas e lutas dos funcionários do Banco do Brasil após os anos dois mil. E iria escrever um sobre formação sindical. Eu iria registrar minhas memórias e pontos de vista como alguém de dentro dos bastidores das lutas entre 2002 e 2013 e o mesmo em relação à formação sindical bancária, como secretário de formação da Contraf-CUT durante seis anos.

Veio a nova missão como eleito em 2014 na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil e os livros que faria ficaram na vontade.

Estou trabalhando para deixar de contribuição para nossas entidades de classe e para nossos trabalhadores da comunidade Banco do Brasil, minhas memórias e registros da caminhada que estamos empreendendo em defesa dos direitos em saúde dos funcionários do BB e na defesa da Caixa de Assistência e seu modelo assistencial.

Está dando um trabalhão, mas entendo que temos que fazer isso. A história da classe trabalhadora é a história de povos subjugados pelas classes dominantes. 

Com as ferramentas tecnológicas e de comunicação do século 21 está cada dia mais difícil para enfrentar os mesmos donos capitalistas detentores de todos os meios midiáticos. Há um totalitarismo nunca visto no domínio das comunicações. A tecnologia da informação poderia libertar o homem, mas está alienando cada dia mais nossos pares. Estamos em tempos de pós-verdade. Se a verdade factual não vencer a manipulação, ela pouco importa.

Enfim, estou documentando e registrando nossa passagem e nosso ponto de vista na luta em defesa dos direitos dos associados que representamos na autogestão Cassi, uma entidade que aprendi a amar e respeitar pelo que ela representa para a saúde de centenas de milhares de participantes ao longo de mais de setenta anos.

Abraços aos amig@s leitores,

William