domingo, 27 de outubro de 2013

Incêndios... (A partir do filme)



Poster do filme Incêndios.

Incêndios

Refeição Cultural

Fim de semana. As intenções do fazer incluíram corridas, leituras e filmes. Um pouco de reflexão sobre os próximos passos na vida também é necessário. Dos imprevistos, tive que me solidarizar com a família de um vizinho cujo pai faleceu.


INCÊNDIOS – O FILME MAGISTRAL

Depois de duas semanas de insistências em casa para assistir ao filme Incêndios (2011), pude finalmente vê-lo. O filme é muito forte. Não tem como não se impressionar e depois quedar reflexivo...

Toda vez que vejo filmes de intolerância de grupos humanos contra o diferente, o outro, fico cabisbaixo e pensativo. Que bicho somos nós? O que significaria o termo “evolução” humana? Talvez nada mais que a mutação biológica por que passamos desde os anfíbios e primatas até a forma humanoide atual.

SINOPSE: mãe deixa em testamento revelação de que os irmãos gêmeos têm outro irmão e que o pai deles está vivo. O passado desta família está lá na Palestina, terra natal de Nawal Marwan, a mãe falecida. Os gêmeos devem entregar uma carta ao irmão e outra ao pai.

A filha sai em busca de respostas e a trama começa. 

O que temos é muito sangue, muita violência já conhecida por todos nós pelo ódio mortal entre religiões e crenças diferentes, entre cristãos e muçulmanos, entre árabes e judeus etc. Idem para a intolerância contra as mulheres por parte dos povos do Oriente Médio.

Cena do início do filme: garotos de orfanato
requisitados para ações de guerra.

O segredo final do filme é surpreendente. Chocante. O diretor usa muito o foco no olhar dos personagens e o olhar humano é sempre muito revelador dos sentimentos e de certa visão interior de mundo e das situações em que nos pegamos...


INCÊNDIOS – SANGUE BORBULHA CONTRA BANQUEIROS

Estou aqui falando de intolerância e ódios mas, eu mesmo, passei minha vida movido pela energia desse sentimento de raiva contra a burguesia, contra poderosos inescrupulosos, contra a miséria estabelecida pelos donos do capital e contra a deslealdade e a ingratidão.

A campanha nacional dos bancários acabou neste ano após vinte e três dias de greve nacional e os acordos foram assinados na semana seguinte. Era para a vida dos trabalhadores no local de trabalho voltar ao normal. Era.

No Banco do Brasil, a direção voltou a fazer exatamente o que fez após a campanha do ano passado. Passou a assediar, perseguir e sacanear os bancários grevistas que fizeram a luta. Estão mandando cancelar férias das pessoas, exigindo assinatura de termos pessoais que não constam do acordo, fazendo anotações e ameaças aos bancários que compensam alguns minutos menos que uma hora.

Ou seja, os caras da direção do Banco querem que a gente continue na luta, paralisando o Banco, acordando de madrugada e fazendo o que era pra ter terminado com o fim da greve.

O sangue e o ódio estão borbulhando contra esses caras da direção que gostam de fazer o inferno na vida dos outros. A culpa é do governo federal, que permite isso, e da parte da direção que não concorda com essa sacanagem e não resolve o problema.

Sigamos em guerra nesta semana que começa...


INCÊNDIOS – QUEIMAM O PULMÃO E OS TENDÕES

Os pulmões e tendões ardem com a falta de condições físicas que eu mesmo arrumei pra mim com o foco total e de tempo integral na luta sindical.

Quero voltar a correr com regularidade e praticar mais esporte, mas com a vida que tenho levado no movimento está difícil.

Sou daqueles que têm completa consciência de que nosso hoje e nossa vida é resultado do que fazemos com o nosso corpo e mente nos dias de ontem.

Vou correr a São Silvestre este ano novamente. No momento, não estou em condições físicas. Se não rever um pouco minha agenda de vida, de cabeça e corpo focados no movimento sindical por tempo integral, as coisas não sairão bem. Eu sei disso. 

Também sei que no movimento não existe ninguém insubstituível. Pelo contrário, querem mais é que você dê lugar para outros. Nisso vale tudo, gente nova chegando com vontade, gente carreirista que quer se dar bem no movimento.

Vou tentar me alimentar bem nestes dois meses, vou tentar descansar um pouco mais e correr com um pouco mais de regularidade.

É de minha natureza sempre testar meus limites físicos. Vamos ver como andam as coisas. Corri hoje uns 40 minutos (6,5 km) e corri na sexta mais uns 30 minutos. Também caminhei ontem.

Post Scriptum:

A música trilha sonora do filme é do Radiohead, "You and Whose Army?". A música é química pura com o filme.

sábado, 26 de outubro de 2013

O Sobrado (I) - O Tempo e o Vento






O SOBRADO – I

“ERA uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno na solidão.

                Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. Quantos passos dali até a igreja? Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. ‘Tte. Liroca – dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos – suba pro alto do campanário e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se alguém aparecer pra tirar água do poço, faça fogo sem piedade...” (pág. 1)


INTRODUÇÃO

Assim começa O tempo e o vento, obra magistral de Érico Veríssimo.

Venci o primeiro volume e já vou empolgado para o segundo livro. Vou deixar registrado em meu blog alguns excertos e passagens mui belas ou que nos levam a reflexões interessantes. Sempre que houver negritos, sublinhados ou marcas do tipo, serão marcas minhas, do leitor.


Atenção leitores: deixo avisado de antemão que minhas postagens revelarão passagens da obra e não terão ordem cronológica. Pode ser que eu comente a morte de algum personagem quando esteja falando de outro. Ou seja, aviso desde já porque não gosto de textos que leio e que revelam enredos de livros e filmes sem avisarem ao leitor.


“O tiroteio cessara ao entardecer. Talvez a munição da gente do Sobrado tivesse acabado. Ele podia atravessar a rua devagarinho, assobiando e acendendo um cigarro. Seria até uma provocação bonita. Vamos, Liroca, honra o lenço encarnado. Mas qual! Lá estava aquela sensação fria de vazio e enjoo do estômago, o minuano gelado nos miúdos.

                Donde lhe vinha tanto medo? Decerto do sangue da mãe, pois as gentes do lado paterno eram corajosas. O avô de Liroca fora um bravo de 35. O pai lhe morrera naquela mesma revolução, havia pouco mais dum ano – tombara estripado numa carga de lança, mas lutando até o último momento.


‘Lírio é macho’ – murmurou Liroca para si mesmo. ‘Lírio é macho.’ Sempre que ia entrar num combate, repetia estas palavras: ‘Lírio é macho.’...” (págs. 1, 2)


Fiz questão de ler primeiro a obra literária antes de assistir a filmes ou minisséries. É que não gosto de contaminação visual ou interpretações alheias na minha construção mental do texto literário. Cinema, teatro e televisão sobre obras literárias são interpretações e visões de diretores.


“Ergueu-se, com alguma relutância e apanhou a carabina.
- Bom, tenho de ir andando... – disse, sem nenhuma vontade de subir para seu posto.
O outro troçou:
- Tome mais um mate, compadre...
Liroca tornou a suspirar:
- Muito mate tomei eu naquela casa.
- No Sobrado?
- É.
- Casa de pica-pau...
- Os Cambarás são gente direita.
- Inimigo é inimigo. O chefe deles é quem diz: ‘Inimigo não se poupa.’
- O Licurgo é um bom homem.
- Todos eles são uns anjos. – Inocêncio deu uma palmada na coronha da arma. – Mas pergunta pra minha Comblain se ela gosta de caçar anjo.” (págs. 4,5)


Nos é apresentado o cenário onde há um casarão, que está cercado por adversários. No casarão tem “pica-paus”, ou seja, republicanos. Mais um pouco e sabemos que é gente dos Cambarás que está no casarão cercado.

Vamos saber mais sobre quem está no casarão (Sobrado).


“A ordem era clara: se alguém viesse buscar água no poço, ele devia fazer fogo. Água... Água pra Maria Valéria. Água pros sitiados. Água pra D. Alice. Água pros meninos. Água pra velha Bibiana. O pior de tudo era haver mulheres e crianças dentro do casarão. No princípio do cerco o chefe federalista tinha erguido uma bandeira branca e mandado o Pe. Romano propor a Licurgo Cambará que fizesse as mulheres e as crianças se refugiarem na casa paroquial, com todas as garantias de vida e de respeito por parte dos revolucionários. Mas Cambará dera uma resposta seca: ‘O lugar da minha família é no Sobrado. Daqui não sai ninguém. Não aceito favor de maragato.’ O padre voltou acabrunhado com a resposta. ‘Sua alma, sua palma’ – disse o chefe federalista. E o tiroteio recomeçou.” (pág. 7)


Agora sabemos que se trata de um embate entre republicanos e federalistas (revolucionários). Estes são chamados de “maragatos” e aqueles de “pica-paus”.

É uma guerra civil brasileira. Irmão que mata irmão. Estamos no ano de 1895. Vamos ver a velha Bibiana.


“Sozinha no seu quarto, sentada na sua cadeira de balanço, e enrolada no seu xale, a velha Bibiana espera... O quarto está escuro, mas para ela nestes últimos anos sempre, sempre é noite, pois a catarata já lhe tomou conta de ambos os olhos. Ela mal e mal enxerga o vulto das pessoas, mas ouve tudo, sabe de tudo, conhece as gentes da casa pela voz, pelo andar e até pelo cheiro. Quando ouviu o primeiro tiroteio, ficou nesta mesma cadeira, esperando e escutando. Quando as balas partiam as vidraças ou se cravavam nas paredes, ela tinha a impressão de estar vendo – não! – de estar ouvindo uma pessoa de sua família ser fuzilada pelos inimigos. Medo não sentiu, isso não. Teve dó. E ódio. Estragarem o Sobrado desse jeito! Mas guerra para ela não é novidade. Tudo isso já aconteceu antes, muitas, muitas vezes. Viu guerras e revoluções sem conta, e sempre ficou esperando. Primeiro, quando menina, esperou o pai: depois, o marido. Criou o filho e um dia o filho também foi para a guerra. Viu o neto crescer, e agora o Licurgo está também na guerra. Houve um tempo em que ela nem mais tirava o luto do corpo. Era morte de parente em cima de morte de parente, guerra sobre guerra, revolução sobre revolução. Como o tempo custa a passar quando a gente espera! Principalmente quando venta. Parece que o vento maneia o tempo...

                (...)

                Ela tem nos dedos murchos um rosário. Esqueceu quase todas as orações. Há uma para dia de tempestade. Outra para tempo de peste. Agora ela precisa rezar pelo bom-sucesso de Alice. Para que botar filhos no mundo, se mais cedo ou mais tarde a guerra leva as criaturinhas?

                A velha Bibiana gosta do barulho da cadeira nas tábuas do soalho. É como uma voz, uma companhia. Lembra-lhe outros tempos, outras largas esperas. Estas batidas surdas e o uivo do vento, e o matraquear das vidraças, e o tempo passando...” (págs. 18, 19)


Adorei a leitura do primeiro volume de O tempo e o vento. Estilo épico, porém com certa leveza na passagem entre o presente da estória e o passado, indo e vindo em mais de um século de gerações de brasileiros na região sul do país em guerras e mais guerras, estabelecendo as nossas fronteiras e definindo a conformação política de nosso Brasil.


Bibliografia:

VERÍSSIMO, Érico. O Tempo e o Vento – O Continente I. Editora Globo. 31ª edição. 1995



Post Scriptum:

No dia 3/11/13, fiz comentário no Facebook a respeito de patifes e me lembrei de leitura que havia feito na obra de Veríssimo.

"Sabe Noni, acordei cedo hoje pra ler O tempo e o vento. Tem uma frase dita por uma personagem sobre patifes que me lembrou o comentário que fizemos ontem sobre certo conhecido nosso que usa adorar amigos com desvio de caráter e falta de ética. Olha que legal a frase:

"Os patifes são em geral pessoas muito simpáticas. Não há nada mais aborrecido que um homem de caráter..."

NÃO É!?"

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Professores são daquelas pessoas mais importantes do mundo!


Olha aí a professora "tia" Ione em descanso...
na Colônia dos professores do Sinpro SP.

Refeição Cultural


Eu sonhei e desejei ser professor, ser educador. As escolhas diárias da vida bem como as agruras de um proletário me levaram a outros caminhos. Não fui professor.

Ao chegar em casa hoje - DIA DOS PROFESSORES - no final da tarde, fiquei bastante emocionado e feliz por minha esposa, professora e alfabetizadora há mais de vinte anos.

Ela dá aula em uma pequena escolinha particular para turminhas de três a quatro anos. As crianças são apaixonadas por ela e os pais reconhecem o quanto ela educa seus pequenos filhos.

Ao ver quantos presentinhos ela ganhou e as cartinhas dos pais e as palavras das crianças, senti um orgulho danado e fiquei tão emocionado por ela porque a melhor coisa do mundo é a gente ser reconhecido e ter um sentimento mínimo de gratidão por aquilo que você se esforça tanto pra fazer bem feito.

Esse sentimento de gratidão não existe naquilo que faço há mais de dez anos com dedicação integral também: ser dirigente sindical e representante dos trabalhadores. Pelo contrário, nunca espere agradecimento nem gratidão pelo que fazemos. Somos odiados na maioria das vezes e vilipendiados. (Mas me avisaram sobre isso quando aceitei o convite para o movimento, então tudo bem)

Minha esposa é encontrada até hoje em redes sociais por alunos adultos que nunca se esqueceram dela. Seus aluninhos dão sermões nos pais quando eles fazem coisas erradas ou, às vezes, deixam os pais desconcertados ao ensinar para eles coisas sobre dinossauros, quadros e pintores famosos, como deve ser o comportamento responsável com o meio ambiente ao ir à praias, parques e coisas do gênero.

A profissão de professores e educadores é uma das mais importantes do mundo. Mesmo não sendo reconhecida por governos e por capitalistas que exploram essas pessoas especiais como quaisquer outros explorados nas fábricas e demais áreas de produção, uma coisa ninguém pode tirar dos nossos mestres que nos alfabetizaram, que nos passaram conhecimento, cultura e foram referências para nós de comportamento e fonte de saber: nosso amor e nossa gratidão verdadeira e carinhosa aos professores e professoras.

O que a minha esposa recebe de amor daquelas crianças e depois permanece quando adolescentes e adultas, não tem nada que pague. É uma coisa muito linda! Dignifica o ser humano que faz algo tão maravilhoso quanto ensinar e educar.

Eu me lembro até hoje da professora Jamila, que me alfabetizou e ensinou as primeiras noções das matérias elementares. Ela gostava tanto de mim que chegava a dizer isso a minha mãe.

Eu me lembro de meu professor de química, Glicério. Nunca perdi o hábito ensinado por ele de ler com muita atenção as questões porque nelas já está parte da resposta correta.

Lembro-me do professor PC quando fiz Ciências Contábeis no Fito em Osasco. Havia entre ele e eu uma espécie de disputa. Ele ficava procurando “pelo em ovo” para não me dar notas dez nas provas de matemática. Mas a gente saía até pra tomar cerveja juntos. 

Foi dele também a verdade que conheci quando entrei na USP para minha segunda formação em Letras. Ele dizia aos alunos, quando desmembrava na lousa equações de derivadas gigantes, que lá na USP os professores não faziam nada daquilo (fazer os exercícios pros alunos aprenderem): só davam uma lista de textos e referências e mandavam cada aluno ir atrás e se virar. Descobri isso quando entrei lá.

Da USP guardo recordações muito especiais. Eu amei ter aulas com vários professores e professoras lá. Meus colegas diziam que meus olhos brilhavam quando eu estava compenetrado nas aulas de literatura, nas aulas de línguas, na sabedoria e na forma como alguns deles davam aulas. Acho que uso a expressão e as técnicas de meus professores até hoje pra falar com os trabalhadores.

Foram muitos professores que conheci na formação tradicional, nos cursos que concluí e nos que não concluí, bem como formadores que conheci como os companheiros da equipe do Dieese. 

Repito novamente: essas pessoas que ensinam, partilham conhecimento, são daquelas pessoas mais importantes do mundo.


Fica a minha homenagem e GRATIDÃO aos milhares de professores e professoras e educadores do mundo que, como a minha esposa, colocam diariamente tanto amor e profissionalismo na ação de educar crianças, jovens, adultos, idosos, trabalhadores e buscam mudar o mundo efetivamente com uma educação humanista e libertadora.



OBRIGADO PROFESSORES DO MUNDO! RESPEITO MUITO VOCÊS!

domingo, 13 de outubro de 2013

Die Welle – A Onda (uma reflexão)




Die Welle – A Onda

SINOPSE (Wikipedia)

A Onda (título original: Die Welle) é um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis Gansel e estrelado por Jürgen Vogel, Frederick lau, Jennifer Ulrich e Max Riemelt. É inspirado no livro homônimo de 1981 do autor americano Todd Strasser e no experimento social da Terceira Onda. O filme foi produzido por Christian Becker para a Rat Pack Filmproduktion. Obteve sucesso nas bilheterias alemãs e depois de dez semanas, 2,3 milhões de pessoas haviam assistido ao filme.


COMENTÁRIO

Este filme ou esta experiência ocorrida em Palo Alto, Califórnia, em 1967, décadas depois dos regimes fascistas de Hitler e Mussolini é algo para nos fazer pensar.

Estamos vivendo tempos estranhos no Brasil do século XXI após mandatos do Partido dos Trabalhadores (PT) na presidência do país após 2003.

Já ouvi de várias pessoas na família, entre os trabalhadores que represento, nas faculdades que frequentei e por aí nos trens e metrôs que seria exagero ou “teoria da conspiração” achar que seria possível haver golpes contra a democracia brasileira ou ocorrer movimentos sanguinários, sejam eles movimentos que levem a uma guerra tradicional de um país contra outro ou guerras civis por poder interno.

E, no entanto, na minha opinião, alguma coisa mudou realmente no comportamento do povo brasileiro após as eleições presidenciais em 2010, quando a candidata Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores enfrentou um candidato da oposição que liderou a abertura da Caixa de Pandora ao liberar todos os preconceitos e intolerâncias existentes nas pessoas ou até estimulando a violência contra a alteridade (o outro), o diferente.

A campanha da oposição ao governo do presidente Lula da Silva foi marcada pelo abuso no incentivo à violência e discriminação contra o pobre ou pela condição social, o nordestino ou contra a origem geográfica, a liberdade religiosa ou contra a parte laica da sociedade, contra o direito ao próprio corpo por parte das mulheres (direito ao aborto), contra a orientação sexual de cada pessoa, contra a população negra, e outras discriminações contra minorias não partícipes do status quo.

A campanha presidencial em 2010 foi marcada por um acirramento e exacerbação da intolerância de uns contra os outros. O Brasil nunca mais foi o mesmo.


NOVO COMPORTAMENTO HOSTIL DE PARTE DO POVO BRASILEIRO

De onde viriam essas ondas pós-junho de “Black Blocks” ou gente mascarada que se reúne pra quebrar tudo que tem pela frente ou até para fazer arrastões nas grandes cidades? Os caras se aproveitam de passeatas e manifestações de movimentos organizados como trabalhadores em campanha salarial, movimento pela regulamentação da mídia, movimento estudantil, movimento dos trabalhadores sem terra ou sem moradia etc para praticar vandalismo e colocar em risco o próprio movimento que eles invadem para começarem seus atos.

Durante a Copa das Confederações no Brasil foi vergonhoso o tratamento dispensado aos povos que vieram participar da competição. Criaram um clima no ar como se as equipes adversárias tivessem culpa de alguma mazela no país e as torcidas nos estádios vaiavam agressivamente as equipes. Os brasileiros demonstraram uma falta de hospitalidade estúpida.

O que dizer então das cenas dantescas de desrespeito aos médicos de outros países que chegaram ao Brasil para atender às populações que não são assistidas pelos médicos brasileiros, que não têm interesse de deixar as capitais e se embrenharem nos interiores dos estados e municípios?

Foi também após a campanha presidencial de 2010 que aumentaram as agressões a homossexuais em logradouros públicos, bem como houve aumento nas ofensas e agressões aos povos oriundos das regiões norte e nordeste.


E AÍ, PRA ONDE CAMINHAMOS?

Onde vamos parar com o incentivo a atitudes fascistas por parte da oposição política ao governo do Partido dos Trabalhadores? Será que querem uma guerra civil e batalhas campais nas grandes cidades só porque não conseguem ganhar os processos democráticos nas urnas? (eu acho que querem exatamente isso)

Eu vejo o que está acontecendo como a “onda” iniciada pelo experimento do professor americano Ron Jones em 1967. 

Terem aberto a Caixa de Pandora da violência e do extremismo fascista é algo difícil de se controlar depois.

Temos que pensar muito sobre tudo isso que mudou pra pior o comportamento de alguns grupos de brasileiros...

Temos que lutar com muito afinco contra essa Onda fascista que anda passando por aqui.


Pra quem não viu o filme ainda, eu recomendo muito!


domingo, 6 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento, O Continente I – Érico Veríssimo




O Tempo e o Vento – Érico Veríssimo

O Continente I


Literatura Brasileira – 1948


Apresentação

Pois é, a obra do escritor Érico Veríssimo (1905-1975) é totalmente desconhecida para mim. É um grande autor brasileiro e faz parte das minhas inúmeras lacunas culturais.

Dias atrás, deram-me aqueles cinco minutos de querer ler o grande clássico O Tempo e o Vento. Acredito que o motivo maior foi o lançamento recente de um filme baseado na história.

Saí em busca da obra. Após a pesquisa para comprá-la, descobri que são 3 livros em sete volumes e que cada um custava entre 50 e 55 reais. Para piorar, não achei o primeiro volume.

Recorri a alguns sebos e finalmente encontrei os sete tomos relativamente conservados da 31ª edição da Editora Globo, de 1995. Paguei 15 reais por volume e economizei uns 200 reais.

O meu eterno problema (eterno enquanto dure) é a falta de tempo para leituras literárias. Estamos em plena campanha nacional dos bancários e no meio de uma greve que já dura dezenove dias nesta segunda-feira 7/10.

Consegui ler até este fim de semana os quatro primeiros capítulos e fiz a leitura do jeito que gosto. Parei para pesquisar sobre a história do local onde a estória se passa – o Rio Grande do Sul – e sobre o autor também. Foi uma delícia!


Sumário do primeiro tomo

O sobrado – I...............................................1
A fonte......................................................21
O sobrado – II............................................67
Ana Terra...................................................73
O sobrado – III.........................................159
Um certo capitão Rodrigo............................171
O sobrado – IV..........................................317


COMENTÁRIOS

Civilização versus Barbárie

Ao ler os primeiros capítulos de O tempo e o vento (O Continente, 1948), é impossível não comparar com a história de Gabriel García Márquez – Cem anos de solidão (1967). Eu diria que é uma história de 150 anos de solidão.

Lendo o capítulo Ana Terra, fiquei pensando na questão da dicotomia Civilização versus Barbárie, tão utilizada nos séculos passados pelos colonizadores europeus para invadir as terras de outros povos “bárbaros” e matá-los ao apresentarem resistência aos “civilizados” europeus, utilizando o argumento de que os povos europeus estariam levando a civilização aos bárbaros.

Mas não foi sob esse ponto de vista das invasões imperialistas que fiquei pensando na questão da Civilização versus Barbárie. Fiquei pensando mais especificamente sob o ponto de vista discutido por Thomas Hobbes em sua obra O Leviatã (1651), onde há uma descrição da necessidade de construir sociedades e comunidades com regras que limitem a liberdade total dos homens em estado de natureza e lhes impor limites sobre sua liberdade em nome de certa paz e regras de sobrevivência coletiva. As pessoas que aceitam viver nestas sociedades aceitam abrir mão de sua liberdade total em troca de segurança e proteção.

Pensei nisso durante a leitura da parte violenta e sanguinária do ataque dos castelhanos à estância da família de Maneco Terra lá em 1789. Durante dezenas de anos, foram comuns na região os ataques recíprocos entre castelhanos, portugueses, índios e bandos diversos.

Desde tempos imemoriais os homens vivem sob a ameaça de ataques de forasteiros em seus vilarejos, cidades, estados, vilas etc. A ideia de Civitas (Cidades ou Estados) tem a concepção de proteção às pessoas que nessas comunidades ou estados habitam sob determinadas regras limitadoras da liberdade total (em estado de natureza) de cada animal humano – indivíduos.

Estamos na segunda década do século XXI e após milhares de anos de experiência humana em constituir sociedades, ainda não resolvemos o problema Civilização versus Barbárie. Atualmente, temos diversos países, em diversos continentes, com cidades e vilarejos que vivem a barbárie exatamente como foi descrita por Érico Veríssimo na estória de Ana Terra.


“E a arte vai mais longe ainda, imitando aquela criatura racional, a mais excelente obra da natureza, o Homem. Porque pela arte é criado aquele grande Leviatã a que se chama Estado, ou Cidade (em latim Civitas), que não é senão um homem artificial, embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado.” (O Leviatã, Thomas Hobbes)


Bibliografia:



VERÍSSIMO, Érico. O Tempo e o Vento – O Continente I. Editora Globo. 31ª edição. 1995

sábado, 5 de outubro de 2013

Sábado: um Tempo na greve pra ler e correr



Cheguei da corrida de sábado. Leitura e corrida... amo isso!

Refeição Cultural

Neste sábado, após dezesseis dias de greve da categoria bancária, fiz um esforço mental para relaxar um pouco.

Semanas atrás, saí em busca dos livros do Érico Veríssimo, O tempo e o vento. Consegui achar os sete volumes em um sebo por um bom preço e com bom estado de conservação. No fim de semana passado comecei a leitura.

Então, depois de uma cervejinha com amigos nesta sexta à noite, dormi um pouco mais que o costume pra acordar legal hoje.

Acordei e fui viajar no tempo com a epopeia da obra de Érico Veríssimo. Já curti muito a centena de páginas que li. Espero poder ler e ler e não precisar parar como sempre acontece.

Depois saí pra correr cerca de 30 minutos em um sábado de muito vento, mas sem chuva. No meio da semana, após um dia que havia acordado umas quatro da manhã, corri uns 20 minutos à noite e a corrida naquela quarta-feira me deu uma aliviada impressionante!

Bom, a corrida de hoje foi uma delícia. Como a primavera já deixou as árvores verdes e com flores multicoloridas!!

Ainda fui almoçar com a esposa em um shopping próximo de casa. Comprei umas plantinhas novas pro meu aquarinho e troquei um pouco da água.

Agora de noite vamos assistir a um filme.

É isso, como humanos que somos precisamos disso.