sábado, 7 de janeiro de 2017

Leitura: LTI - A Linguagem do Terceiro Reich (1947) - Victor Klemperer


(atualizado às 9:48h de 08/1/17)



Refeição Cultural

"A língua conduz o meu sentimento, dirige a minha mente, de forma tão mais natural quanto mais inconscientemente eu me entregar a ela. O que acontece se a língua culta tiver sido constituída ou for portadora de elementos venenosos? Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e aparentam ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar"


Victor Klemperer, LTI

Acabei a leitura do livro do filólogo alemão Victor Klemperer (1881-1960). A obra é uma das raras contribuições em forma de testemunho de sobreviventes do nazismo. Este livro traz uma característica a mais, pois ele é o mais profundo estudo filológico e linguístico sobre as mudanças na língua alemã desde a ascensão de Adolf Hitler em 1933 e durante todo o 3º Reich.

Esta obra é profunda, é reveladora. Mostra a técnica utilizada por Hitler e Goebbels, Ministro da Propaganda, para conduzir toda a nação alemã ao nazismo.

Eu vi este livro um certo dia quando flanava por uma livraria paulista no ano de 2010. Na hora peguei o volume, li a capa e as abas e fiquei tomado de curiosidade. Desde então, comecei a ler, com a dificuldade que sempre tive de pouco tempo disponível para leituras pessoais.

Eu não consegui avançar rapidamente, porque cada capítulo de suas mais de 400 páginas me deixava passado, perplexo, sem reação para ler muitos capítulos na mesma sentada. Foi desta forma que fui me apropriando dos ensinamentos de Victor Klemperer, porque o objetivo da confecção da obra era a educação e a contribuição ao povo alemão para "desnazificar" a língua alemã após a catástrofe do 3º Reich entre 1933-45.

Ao mesmo tempo em que adquiri o livro e passei a manuseá-lo, a partir de 2010, fui me apercebendo do que ocorria em meu país, o Brasil dos governos do Partido dos Trabalhadores, primeiro Lula da Silva e depois Dilma Rousseff, em relação às estratégias de comunicação e linguagem dos empresários donos dos meios midiáticos, em monopólio e propriedade cruzada, que chamamos de Partido da Imprensa Golpista (PIG). As semelhanças das técnicas nazistas e da mídia empresarial não são mera coincidência. Nunca foram!

O livro é tão profundo que seria muito difícil eu fazer postagens com citações e comentários como gosto de fazer. Até fiz algumas, é só clicar na aba direita do Blog na categoria "Victor Klemperer" que tem algumas citações.

O que é possível é deixar para vocês a sugestão de leitura, como acontece quando entramos em um curso acadêmico. Eu me lembro de um professor, o PC, de meu primeiro curso superior em Ciências Contábeis (FEAO/FITO) que dizia que na USP o que tínhamos eram listas de referências de leitura e bibliografias a cumprir para discutir em sala de aula. Depois entrei no curso de Letras na FFLCH/USP e experimentei o que ele havia nos dito anos antes.

Quando entrei em férias, dias atrás, decidi pegar e terminar o livro de Klemperer. Li as oitenta páginas que faltavam. Novamente, fiquei passado, perplexo, triste, atento à realidade como alguém que percebe o que está acontecendo em meu mundo, em meu país.

Estamos vivendo num Brasil que sofreu Golpe de Estado em 2016. Os golpistas envolvidos na máquina estatal, dos três poderes, estão em conluio com os seus parceiros empresários dos meios de comunicação cartelizados e de mesma propriedade. O massacre totalitário das comunicações de todos os veículos de massa nos dá náuseas e quase nos destroem. Eu resisto porque tenho formação de vida para isso. Mas é muito difícil.

É verdade que tenho poucos dias para leituras de autoconhecimento antes de retornar ao cotidiano de trabalho, mas é interessante como a vida nos põe as leituras nas mãos. Estou nos dias de leituras "fáusticas".

Eu fui procurar um livro dias atrás, e não encontrando o que procurava, me encontrou o "Fausto" de Goethe. Peguei para ler e vou terminar nos próximos dois dias. O mito do homem que vende a sua alma ao diabo é muito antigo. As reflexões no livro de Victor Klemperer não deixam de ser um estudo de caso sobre isso. Eu acabei saindo hoje e fui comprar "Doutor Fausto", obra monumental do alemão Thomas Mann, lançada também em 1947, abordando o tema: como o povo alemão pôde vender sua alma ao nazismo?

A sociedade humana vai avançando no tempo e neste ponto da história humana estamos vendo novamente a ascensão das ideias e ideais de direita, fascistas, do domínio ideológico de uns poucos indivíduos (1%) sobre todos os demais bilhões no mundo (99%).

Enfim, peço a licença aos nossos leitores amig@s para sugerir a leitura desta obra do sobrevivente do nazismo Victor Klemperer. É boa leitura para aquel@s que gostam do tema de comunicação e linguagem, meios midiáticos e técnicas de convencimento de massas, linguística, política, propaganda e áreas afins.

Sabem de uma coisa? Eu estou muito focado em reler, corrigir, diagramar, categorizar e organizar milhares de postagens em blog, feitas em mais de uma década, porque sempre acreditei em partilhar conhecimento e opiniões de maneira gratuita, como forma de dialogar com o mundo civilizado. Quando vejo que centenas de pessoas do mundo acessam nossos textos, sinto uma responsabilidade imensa em tudo o que escrevo e opino.

Abraços,

William

EXCERTOS:

COMO PERDOAR OS INTELECTUAIS DE TODAS AS ÁREAS DO CONHECIMENTO QUE ADERIRAM AO NAZISMO?

"Durante todos esses anos, principalmente nas semanas em Falkenstein, repeti para mim mesmo a pergunta para a qual não consigo encontrar resposta até hoje: como foi possível que intelectuais perpetrassem tamanha traição à cultura, à civilização e à humanidade? Os agentes da Gestapo eram bestas humanas, apesar de terem patentes de oficiais; é preciso ter paciência com gente desse tipo, que vai continuar existindo. Mas uma pessoa culta como esse historiador da literatura! Atrás dele me vem à memória uma fila de literatos, poetas, jornalistas, acadêmicos. Traição por todo lado..."

USAR PALAVRAS QUE ANESTESIAM E DEIXAM A MASSA SEM CAPACIDADE DE PENSAR

"Hitler conhece com terrível precisão a psicologia da massa que é incapaz de desenvolver um raciocínio próprio e deve permanecer nessa condição. A palavra estrangeira impressiona e é tanto mais imponente quanto menos compreendida for; nesse caso, desconcerta e anestesia, sobrepondo-se ao pensamento..."

Bibliografia:

KLEMPERER, Victor. LTI - A Linguagem do Terceiro Reich. Editora: Contraponto. 1ª edição, 2009.

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