quinta-feira, 21 de junho de 2012

A morte em família - duas perdas na semana


Vovó, te amamos muito por toda a sua vida. 
Sua lembrança será meu consolo.

Li certa vez uma frase de um autor americano que dizia que percebíamos o envelhecimento à medida que aumentava a frequência de velórios e falecimentos de parentes e amigos.

Devo estar envelhecendo.

Minha avozinha querida morreu agora há pouco. Como escrevi aqui, era previsto muita dificuldade na recuperação do tombo dela semanas atrás. Vovozinha, como a senhora foi amada e querida por todos nós.

Morreu minha avozinha. Estou do outro lado do Brasil e neste momento estou no aeroporto de Fortaleza (CE) para ir sofrer e partilhar a dor de meus pais e familiares lá em Uberlândia (MG).

Estou chegando vovozinha para vê-la pela última vez.

Tia Laura também nos deixou
 nesta semana.

É meu segundo velório nesta semana. A tia Laura faleceu também faz dois dias. Foi a tia mais próxima e querida de minha esposa.

Ambas nos viram crescer e chegar aonde chegamos.

Estou muito triste. A vida é assim.


COMENTÁRIO POST MORTEM

Palavras ditas ao vento diante do túmulo de minha avozinha Cornélia e de minha querida tia Alice, ambas, duas referências de pessoas pelas quais luto diariamente para transformar o mundo em um lugar mais justo e benfazejo para os simples de coração:


"Vou seguir minha militância por um mundo melhor, com ética e dedicação, por saber que existem milhões de pessoas simples de coração e humildes como vocês vovó e titia. A luta vale a pena por acreditar que podemos melhorar a vida da maioria da população. Eu não faço militância para garantir elitismo. Luto para mais gente ter direito a mais coisas da inventividade humana. As melhorias humanas são direitos humanos e como tais, são direitos de todos."


William

domingo, 10 de junho de 2012

O que Marx escreveria no quinto volume de O Capital


Custou a Marx quatro volumes de “O Capital” para demonstrar que o fundamento da acumulação de lucro pelo capitalista estava na apropriação da mais valia, isto é, na apropriação da diferença entre o valor de reprodução da força de trabalho e o valor dos bens que ela produz. Isso mudou. Se estivesse vivo, Marx prestaria mais atenção no que acontece hoje fora da fábrica, ou seja, nas relações monetárias e fiscais que transferem renda direta dos mais pobres para os muito ricos, seja no boom, seja especialmente nos momentos de crise econômica, pela via da disputa do orçamento público.

Na fábrica, exceto situações extremas como a da China e de outros países asiáticos onde temos ainda um processo de acumulação primitiva baseado na super-exploração do trabalho, o valor da força de trabalho vai-se aproximando cada vez mais do valor que ela produz em face da concorrência de preços inter-capitalista. As grandes corporações não negam generosos aumentos salariais. Apenas os transferem, coordenadamente, aos preços. É na disputa da mais-valia extra fábrica – ou seja, no orçamento público - que se concentram os grandes ganhos empresariais. Isso, na crise, fica explícito.

Por que os conservadores europeus, chefiados por Merkel, advogam políticas monetárias expansivas e políticas fiscais restritivas? Pensem bem. Quem toma dinheiro emprestado em bancos, a taxas reduzidíssimas, senão os que têm garantias patrimoniais para oferecer? E quem tem garantias, exceto os ricos? Assim, nas crises financeiras como a atual, a política monetária expansiva, em nome da facilitação do crédito, não passa de um artifício para facilitar a apropriação direta da mais-valia social pelos mais ricos – primeiro, os bancos que têm acesso às taxas básicas, depois, a sua clientela que se beneficia de taxas igualmente baixas.

Na prática e na teoria, conhece-se a falácia da política monetária expansiva para combater a recessão desde, pelo menos, a Grande Depressão dos anos 30. Ali se descobriu o fenômeno do “empoçamento” do dinheiro nos caixas dos bancos e a metáfora que o descreve: política monetária é como uma pedra amarrada por barbante; você pode puxar a pedra com o barbante, produzindo recessão, mas não pode empurrá-la para produzir uma retomada. É que o dinheiro fica empoçado no caixa dos bancos e das grandes empresas justamente por falta de demanda agregada que justifique novos investimentos.

E que dizer da política fiscal? Em tese, a política fiscal pode ser um campo de transferência de renda dos mais ricos para os mais pobres. Em países de perfil social-democrata, como os europeus, isso produziu uma civilização avançada, com o estado atuando no sentido de transferir renda para o financiamento de serviços públicos universais como saúde, educação e previdência, essenciais para o bem estar coletivo e a estabilidade social e política. Nesse caso, a mais-valia social produzida no nível das empresas, conjuntamente por trabalhadores e capitalistas, é em parte apropriada pelo Estado e transferida na forma de benefícios aos menos privilegiados.

A pressão conservadora em favor de políticas fiscais restritivas nada mais é que uma reação aos processos de transferência de renda de perfil social progressista. Entretanto, assim como a política monetária tem sido um fracasso – na debilitada economia americana as grandes corporações têm parados nos seus caixas, portanto sem investir, mais de 2 trilhões de dólares -, a política fiscal tem sido um tiro no pé: a Grécia, a que se impôs um programa de austeridade fiscal draconiano, registrou uma contração no PIB de 6,5% no primeiro trimestre, e uma contração da receita pública de 25%. Isto é, só por esses números vê-se que o plano de recuperação acertado com a troika – FMI, BCE e Comissão Europeia – já foi para o espaço porque a dívida pública em relação ao PIB cresceu, em lugar de diminuir, embora não tenha havido um euro de gasto público deficitário, mas sim cortes profundos no orçamento. 

O quinto livro de “O Capital” revelaria que o fator responsável pela apropriação parcial da mais-valia social pelos países social-democratas reais foram as fortes pressões políticas resultantes do lento processo de expansão dos direitos de cidadania e da democracia no mundo. Por isso, para reverter a tendência, é necessário quebrar a espinha da democracia. Na Itália e na Grécia puseram tecnocratas no poder. Na Alemanha e na Inglaterra, políticos ignorantes de economia defendem o jogo da direita, mesmo com o risco de um futuro desastre eleitoral. Isso nos anima. Se a democracia sobreviver na Europa, uma nova direção política, da qual Hollande, da França, é um precursor, poderá retirar o continente das cordas com uma nova combinação de políticas monetária e fiscal, restaurando a combalida social-democracia europeia.

P.S. Não se impressione com os 100 bilhões europeus para o resgate dos bancos espanhoes. Nem um único euro será usado para financiar investimentos. Ou seja, mesmo que a taxa de juros baixe para a Espanha, isso em nada contribuirá para uma real recuperação da economia e queda do desemprego de 25%.

(*) Economista, professor de Economia Internacional da UEPB, co-autor, junto com Francisco Antonio Doria, do recém-lançado “O Universo Neoliberal em Desencanto”, pela Civilização Brasileira. Esta coluna é publicada também no site Rumos do Brasil e, às terças, no jornal carioca Monitor Mercantil.
Fonte: Carta Maior

COMENTÁRIOS DE LEITORES DE CARTA MAIOR
PS: tem um comentário de leitor muito bom, que lembra que o Estado de bem-estar social europeu foi à custa da exploração dos demais países explorados.
RODRIGO CHOINSKI: Marx não deixaria de observar a forte exploração na divisão internacional do trabalho. É óbvio que Marx jamais diria o que foi dito no último parágrafo - que a Social-democracia do Welfare State, veio de pressões por diminuição da exploração, pois o Welfare State não significa diminuição da exploração, mas exploração dos países subdesenvolvidos pelos países imperialistas, sendo o benefício relativo para a classe trabalhadora dos países centrais do capitalismo ficarem na sua.

A FRATERNIDADE É VERMELHA - TROIS COULEURS: ROUGE

Capa original do filme. Fonte: Wikipedia.


Nesta madrugada, acabei de assistir à trilogia das cores de Krzysztof Kieslowski, cineasta polonês falecido em 1996, vítima de um infarto fulminante no auge da carreira.


O terceiro filme, A Fraternidade é Vermelha, é belíssimo.


É sobre a estória de uma jovem modelo que vive em Genebra - Valentine (Irene Jacob). Após atropelar uma cachorrinha pastor alemão, ela vai atrás do dono do animal - o juiz aposentado Joseph Kern (Jean-Louis Trintignant), que passa o dia escutando as ligações telefônicas dos vizinhos.


Neste filme da trilogia, além de vermos o renascer da esperança após cada tragédia pessoal, temos também a mão do acaso podendo mudar uma trajetória negativa da existência que pareceria inexorável.


A vida do juiz aposentado Joseph Kern, homem que viveu infeliz após uma traição na juventude, é um espelho do que poderia ser a vida do jovem juiz Auguste (Jean-Pierre Lorit), que padece do mesmo início de vida adulta que teve aquele juiz aposentado.


A esperança de uma virada na vida do jovem juiz está em Valentine, a jovem e bela modelo que busca viver dentro dos padrões de correção tanto social quanto de consciência. Ela se preocupa com o animalzinho atropelado, com o irmão problemático, com a mãe, com o juiz aposentado, com todo mundo.


CENA DO LIXO - NOSSA REDENÇÃO EM VALENTINE


Aliás, temos a bela cena da fraternidade neste filme. Os espectadores viram nos 3 filmes a cena de uma pessoa idosa tentando colocar uma garrafa no depósito de lixo na rua. A francesa Julie (Juliette Binoche) viu e nada fez para ajudar no primeiro filme. O polonês Karol (Zamachowski) também nada fez no segundo filme ao ver a cena. A nossa redenção vem com Valentine, que sai de seu momento de observação e vai em socorro da velhinha ao ajudá-la a colocar a garrafa no lixo.


COMENTÁRIO FINAL


A Liberdade guiando o povo - Eugène Delacroix (1830) 


A cena final após o naufrágio é muito interessante. É a Europa que estava ali representada. Era a esperança que havia duas décadas antes, a cena era o nascimento da União Europeia.


E agora? Do naufrágio real da crise europeia, que esperança há para franceses, poloneses, ingleses, suíços, espanhóis, portugueses, gregos e tantos outros?


Kieslowski não está mais entre nós para filmar os acasos e nos apresentar possíveis leituras e mudanças de rotas existenciais. Resta a nós mesmos cismarmos onde toda a crise europeia vai desaguar.


Na França, o povo escolheu um socialista para o próximo mandato presidencial. Na Espanha, escolheram um neoliberal. Em Portugal outro neoliberal. Extremas direita e esquerda crescem na Europa...


É isso! A ver...

A IGUALDADE É BRANCA - TROIS COULEURS: BLANC

Capa original do filme. Fonte: Wikipedia


Acabei de assistir ao terceiro filme da trilogia. Porém, antes de postar comentário sobre ele, preciso fazer um comentário sobre A Igualdade é Branca.


A estória é sobre o polonês Karol Karol (Zamachowski) que se casa com a francesa Dominique (Julie Delpy) e enfrenta uma separação por não conseguir satisfazê-la sexualmente. Ela pede o divórcio, ele enfrenta um tribunal onde pergunta onde estão seus direitos, pois acha que está sendo prejudicado por não falar a língua local, e depois ela o deixa na rua sem nada e ainda o trai na maior cara de pau.


Como no primeiro filme de Kieslowski, a cor branca está presente no filme o tempo inteiro. O filme se passa nos anos noventa. Comemorava-se a União Europeia. Vivia-se o mundo após o fim da União Soviética. Hoje, duas décadas depois, vemos a União Europeia se desintegrando com a crise mundial após 2008.


O mundo gira, gira e as coisas vão e voltam...


O tempo todo sentimos junto com Karol a dureza de ser um estrangeiro no país francês. De novo, duas décadas depois, vemos se repetir a mesma coisa com relação a todos que são estrangeiros nos países em crise na Europa.


IGUALDADE


A única igualdade que temos é de sermos todos pegos pelos ACASOS da vida. Não se pode escapar deles. Veremos isso ao longo dos três filmes e eles alinhavam e modelam a existência de todos nós.


Eu nem poderia começar a citar os acasos de minha existência que me fizeram ser o que sou e estar onde estou hoje. Jamais planejei nada disso. Jamais!


O que posso dizer dos filmes da trilogia é que são encantadores, poéticos e nos deixam pensando, cismando. Talvez não seja o caso de ficar falando sobre eles, somente cismando...

sábado, 9 de junho de 2012

MEMÓRIA: Ray Bradbury, um escritor de ideias (22/8/20-06/6/12)


Texto de Rosane Pavam, de Carta Capital.

Ray Bradbury, sempre ligado ao público.
Fonte: Carta Capital.
O escritor norte-americano Ray Douglas Bradbury, morto dia 6, aos 91 anos, de causas desconhecidas, viajou pela literatura como um grande aventureiro. Ele se dizia um “escritor de ideias”, não de ficção científica, como ficou conhecido após criar sucessos como Crônicas Marcianas (1950), O Homem Ilustrado (1951), ou o romance Farenheit 451 (1953), este transformado em filme por François Truffaut em 1966. Seu método consistia em associar palavras a ponto de lhes dar uma história inteira, como explicou certa vez no documentário The Illustrated Man. O que viesse como consequência era o inesperado, mas também o que morava dentro dele.

Toda a sua escrita era marcada por esse método associativo, algo assemelhado ao da poesia, aquela com a qual trabalha um Manoel Barros, no Brasil. Em Bradbury, um escrito sempre começava por uma palavra, digamos “berçário”, conforme explicava naquele documentário: “Datilografo a palavra em minha máquina, não sei por quê. E imagino como seria esse berçário. Do passado, do presente? Do futuro. Em que país? No Pólo Norte, na África? E então começo a construir um ambiente tridimensional. Você põe as crianças naquele lugar, seus pais, relaciona-os  com o mundo. De repente, você voa apenas porque ousou colocar as palavras no papel. Nem sabia que a história estava com você, mas continua a escrever”.

Nadava em bom humor. Dizia divertir-se com as ideias. Melhor dizendo, brincava com elas: “Não sou uma pessoa séria e não gosto de gente séria.” Sua disposição para falar ao público durou até o fim. Em 1955, casado, pai de quatro meninas, foi à televisão para que Groucho Marx o desafiasse no show You Bet Your Life. Groucho não o conhecia, mas ele, então com 35 anos, já escrevera seus livros mais importantes e roteirizara Moby Dick, de John Huston. “O que você faz, Ray?”, pergunta-lhe Groucho. “Sou um escritor (a writer).” Groucho, confundindo writer com rider (piloto): “De motocicleta?” Ray esclarece a diferença de ofícios, soletrando a palavra writer. E Groucho: “Muito confortante que estejamos diante de um escritor que saiba soletrar”.

Desinteressado em que somente o público da FC o distinguisse, Bradbury escreveu fantasias científicas sem preocupações de verossimilhança. Em sua Marte, era possível respirar e viver dos sonhos. E ele não imaginava um mundo sem bibliotecas. Em Farenheit 451, o protagonista, um bombeiro, faz as fogueiras onde os livros, objetos condenados, devem ser destruídos. Muitos leram esta ficção como uma condenação ao autoritarismo político. Não Bradbury, o livre: “Minha ideia era alertar contra os males da televisão”.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem...


Com minha mãezinha, com foto da família ao fundo.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem

Reflexão à luz de Drummond e Hamlet

Meu tempo atual tem sido o tempo descrito no verso tão forte do grande poeta Drummond.

A vida tem sido uma ordem, sem mistificação alguma. A minha vida tem sido assim.

Eu relaciono cada verso deste poema ao que tenho enfrentado nas últimas semanas. No passado, cada música marcava algo em minha vida. Hoje, cada verso dos poemas que gosto marca meu viver.

Ontem em uma difícil reunião política, ofereci este poema aos participantes. Era um sinal de que apesar das discussões dentro dos edifícios, a vida prossegue e as mãos seguirão tecendo o rude trabalho.

Sempre em benefício da luta pela libertação da classe trabalhadora do jugo explorador do Capital e da alienação determinada pela classe dominante.


Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


(Carlos Drummond de Andrade, em Sentimento do Mundo, 1940)


Acrescento ao poema de Drummond uma famosa reflexão de Hamlet de 1603 (Shakespeare) sobre o SER OU NÃO SER. O que ficou para a posteridade nesses séculos foi somente esta parte da reflexão.

A expressão abre uma reflexão profunda e angustiante do jovem príncipe da Dinamarca Hamlet sobre seguir vivo ou não, diante de tamanha tragédia vivida por ele. No fundo de sua dor, ele se questiona se não seria melhor o sono da morte, mas o que a morte nos traz? Ninguém de lá voltou para nos dizer. O dilema do jovem é viver... morrer...

Apresento para vocês a reflexão completa sobre o:

SER OU NÃO SER...

Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes?

Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.

Morrer... dormir... dormir... Talvez sonhar...

É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos.

É essa ideia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa!

Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte – terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou – que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?

De todos faz covardes a consciência.

Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem.

Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia.

Em tuas orações, ninfa, recorda-te de meus pecados.”


COMENTÁRIO FINAL

Os dois clássicos, Drummond e Shakespeare, cada um a seu modo, põem-me a seguir diariamente acordando e saindo para a luta por meus ideais que são os de lutar por um mundo melhor, mesmo quando o meu mundo está em conflito como aquele vivido pelo jovem Hamlet.

A vida sempre prossegue, e assim deve ser para uma pessoa de ação como devemos ser todos nós, agentes da transformação.

“Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança”

É isso!


Bibliografia:

ANDRADE. Carlos Drummond. Sentimento do Mundo. Editora Record. Rio de janeiro e São Paulo. 10ª edição, 2000.
SHAKESPEARE. William. Hamleto. Coleção Universidade de Bolso. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Ediouro 10983.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

JORNADA DE TRABALHO – REFLEXÕES


Capa de minha edição.



Pensando o trabalho bancário à luz de Marx


El Capital

Magnitud del valor, tiempo de trabajo socialmente necesario


“La sustancia del valor es el trabajo. La medida de la cantidad de valor es la cantidad de trabajo…

(…)

La productividad, pues, del trabajo depende, entre otras cosas, de la habilidad media de los trabajadores, de la amplitud y eficacia de los medios de producir y de circunstancias exclusivamente naturales; por ejemplo:

La misma cantidad de trabajo está representada en 8 (ocho) fanegas de trigo, si la estación ha sido favorable, y en 4 (cuatro) en el caso contrario…(p.8)


Aqui temos uma citação muito importante para entender na categoria bancária a questão do sistema de metas e a eterna tentativa dos bancos de remunerar os trabalhadores por resultado baseado no atingimento de metas e não por suas jornadas corretas de trabalho – 6 horas diárias.

Essa é a lógica do capital de não pagar pela compra da força de trabalho por jornadas determinadas (limitadas) por uma legislação e por conquista oriunda das lutas dos trabalhadores.


CUMPRIR A JORNADA DE TRABALHO É META REALIZADA

Os bancários de uma agência trabalharam a mesma “jornada” na tentativa de oferecer produtos financeiros e no atendimento dos clientes e usuários.

Terem sido realizadas 8 ou 4 operações, ou seja, atender clientes e ou vendas de produtos naquela “estação” (naquele dia/jornada) é REALIZAÇÃO DE METAS, fruto das horas de trabalho de todos e não somente daqueles que finalizaram as operações.


“Por regla general, si la productividad del trabajo aumenta disminuyendo el tiempo necesario para la producción de un artículo, el valor de este artículo disminuye, y recíprocamente, si la productividad disminuye, el valor aumenta. Mas cualesquiera que sean las variaciones de su productividad, el mismo trabajo crea siempre el mismo valor, funcionando durante igual tiempo, solo que suministra en un tiempo determinado una cantidad mayor o menor de valores de uso u objetos útiles, según que aumente o disminuya su productividad…”


Aqui se fala do aumento da riqueza material, fruto da produtividade do trabalho humano:

“Aunque gracias a un aumento de productividad se produzcan en el mismo tiempo dos vestidos (roupas) en vez de uno, cada vestido seguirá teniendo la misma utilidad que antes de duplicarse la producción; pero con dos vestidos se pueden vestir dos hombres en lugar de uno; así, pues, hay aumento de riqueza material

Sin embargo, el valor del conjunto de objetos útiles sigue siendo el mismo: dos vestidos hechos en el mismo tiempo en que antes se ha hecho uno, no valen más de lo que precedentemente uno solo.” (p.8)


POR QUE ISSO OCORRE?

Porque a substância do valor de uma mercadoria está na força de trabalho acumulada nela:

“(...) las mercaderías revelan solamente que en su producción se ha gastado una fuerza de trabajo. De otro modo: que en ellas se ha acumulado trabajo…” (p.7)


OU SEJA,

Quanto mais clientes e mais contas abertas e mais produtos financeiros forem vendidos com a mesma quantidade de trabalho, maior será a produtividade e maior a criação de riqueza (quem se apropria dela?).

A quantidade de trabalho dos bancários na agência é medida pelas horas de trabalho somada da jornada de cada um deles, independente de qual deles finalizou a gravação de um produto ou operação qualquer.

“Cualquier modificación el la productividad que haga más fecundo el trabajo, aumenta la cantidad de artículos que ese trabajo proporciona, y por lo tanto, la riqueza material;

Pero no modifica el valor de esa cantidad, de ese modo aumentado materialmente, si continúa siendo idéntico el tiempo total de trabajo empleado en su fabricación…” (p.9)





COMENTÁRIO FINAL

É evidente que aqui não estamos abrangendo todos os outros fatores que existem no processo bancário como, por exemplo, as tarifas cobradas, os valores dos salários pagos por cada função dentro da agência, as horas extras não pagas  etc.

Na lógica colocada pelo capital, quando um ou outro bancário dentro da agência não atinge as metas, o sistema faz com que as pessoas sejam as culpadas, demitindo ou descomissionando aquelas de "menor produtividade". Pura invenção do capital, porque a produtividade do sistema só tem aumentado há décadas e não se paga mais salário aos bancários por isso. 


Pelo contrário, após um aumento de folha de pagamento por campanha salarial, os bancos demitem os bancários com salários maiores e contratam com salários inferiores, readequando suas fopags.

Para se pensar seriamente em qualquer discussão de jornada de trabalho bancária é necessário que o sistema seja outro, enfim, a remuneração do bancário não poderia depender de valores atrelados a cumprimento de metas. Os bancários deveriam receber salários por suas funções e responsabilidades e com jornadas de 6 horas de trabalho de segunda à sexta-feira.

Bibliografia:
MARX, Karl. El Capital. Editorial ALBA. 1999, Madrid.

domingo, 3 de junho de 2012

A LIBERDADE É AZUL - TROIS COULEURS: BLEU

Capa do filme - fonte: Wikipedia.


Assisti ao filme A liberdade é azul (1993), do polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996). Primeiro filme da trilogia das cores.


A ESTÓRIA


Muito já se escreveu sobre o filme. Então, também comentarei aqui o meu sentimento de hoje.


O filme conta a estória de Julie (Juliette Binoche), que perde em um acidente de carro a filha de 5 anos e o esposo - um compositor famoso.


Após um primeiro momento de desespero por ter que viver após a perda de sua família, ela decide desfazer todos os vínculos com o passado e tentar sobreviver. A partir daí, acompanhamos a belíssima interpretação da bela Juliette Binoche em conduzir sua personagem a buscar se libertar de tão grande tragédia e seguir a vida.


Duas coisas ela carrega consigo daquela vida interrompida: um móbile de pedras azuis de sua filha e algo imaterial - a música que vinha sendo composta por seu marido (ou ela?) para um evento de unificação da Europa. A música está em sua cabeça e a domina em determinados momentos.


O filme transmite muita dor... isso é marcante nas expressões de Julie.


Também conta com algo forte nos filmes de Kieslowski: O ACASO que está em tudo na existência e muda o rumo constantemente das coisas.


INFORMAÇÕES EXTRAS


Ganhei a caixa com a trilogia (versão 2006, a mais completa) de meu amigo e companheiro de formação sindical - o mineiríssimo Carlindo de Oliveira, formador do Dieese. A versão tem mais de uma hora de extras. Partilho com vocês algumas informações que me surpreenderam como, por exemplo, a fala do Kieslowski pouco antes de morrer. Ele me deixou cismando.


- uma das cenas que nos doem as pernas durante o filme é aquela em que Julie sai raspando sua mão pelo muro e relva com muita raiva de tudo. A mão dela fica toda ferida. A CENA FOI VERDADEIRA!


Como eles precisavam gravar e não tinha proteção para a cena, Juliette Binoche fez aquilo de verdade e ficou com marcas na mão por quase um ano.


- Tem uma entrevista com Kieslowski feita após a gravação do terceiro filme da trilogia e pouco antes dele morrer. Ele me pareceu o técnico de futebol Muricy Ramalho dando entrevista. Seco, direto e reto na resposta.


O diretor Kieslowski afirmava ao entrevistador que havia se aposentado e que não iria fazer mais nada além de viver. O entrevistador ficou insistindo sobre o que ele ia fazer e ele disse: NADA! vou respirar, comer, dormir... viver como vocês brasileiros que gostam da vida!


QUEDEI CISMANDO na fala dele ao dizer que só fazia filme porque era a profissão dele. Sem essa de que era feliz com isso, ou que fazia o que gostava. Direto e simples assim!




COMENTÁRIOS E REFLEXÃO FINAL


A questão da LIBERDADE, do ACASO e do FAZER O QUE TEM QUE SER FEITO ficou na minha cabeça.


NÃO ACREDITO QUE SOMOS LIVRES. Como ser livres se nos apegamos a algo ou se algo se apega a nós e então criamos o vínculo e depois do vínculo o compromisso e por fim aquele negócio de ser responsável por aquilo que você cativou (vinculou)? Já vimos isso em Sartre.


O ACASO FEZ TODA A MINHA EXISTÊNCIA. Estou sindicalista, casado e com filho (que está me destratando com ingratidão) porque as coisas foram acontecendo e me tirando de coisas que eu buscava. Entrei no sindicato quando estudava para sair do bb e havia acabado de entrar na Usp. Virei pai, me esforcei para contribuir na formação daquele garotinho que agora se acha no direito de me desrespeitar.


Sobre FAZER O QUE TEM QUE SER FEITO digo somente que estou fazendo TUDO o que posso para ser um dirigente sindical, representante da classe trabalhadora. Não amo, não sou feliz com nada na minha vida, MAS ACORDO PARA FAZER BEM FEITO TUDO O QUE FAÇO, COM ÉTICA E CARÁTER. Só isso!


Quem acompanha meu blog sabe que eu sempre quis ser intelectual, ler e viver em função de estudar e ser um erudito. Não deu certo e não tenho tempo sequer de dormir ou praticar algum esporte hoje em dia.


Foda-se!


Amanhã vou ser um bom sindicalista. A vida vai me levar as pessoas que amo (como leva de todo mundo) e vou respirando, lutando e andando por aí. Ser assim a vida inteira nunca me atrapalhou fazer bem feito o que tem que ser feito.