segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Refeição Cultural - Da Morte

Meus últimos dias foram marcados de alguma forma por mortes que me sensibilizaram muito. As mortes foram me sensibilizando gradativamente. Estou cismando sobre elas agora e pensando sobre a vida. Ou melhor, estou pensando sobre a existência dos seres.

A primeira coisa que fiquei refletindo a respeito da morte é se ela faz parte de algum sentido ou razão na existência, como “plano” de algo metafísico. A síntese de minhas reflexões é que não há uma razão na existência. O que há é simplesmente a própria existência das coisas, a vida de cada ser, até o momento em que cessa aquela mesma vida – a morte.


Chlorostilbon lucidus
(Foto ilustrativa da Wikipédia)
 
- Fiquei babando feito bobo na beleza de um par de filhotinhos de beija-flor durante três dias da semana que passou. Eles estavam em um arbusto baixo, no local onde nos hospedamos para um curso de formação de uma semana, lá em Florianópolis. Eu já temia pela sorte daquelas coisinhas frágeis. O que poderia fazer a mamãe beija-flor contra gigantes? Cada vez que um de nós se aproximava do arbusto, ela ficava num galho de árvore mais distante com um cantar agoniado. Na quinta-feira pela manhã ocorreu o que eu temia. Os galhos ao redor do ninho foram arrancados, os filhotes sumiram e o ninho foi parcialmente destruído. Foram mãos humanas que fizeram aquilo. Havia no hotel mais de uma centena de pessoas. Breve foi a existência daqueles bichinhos que vi por três dias com seus biquinhos apontados para cima, esperando pela mamãe beija-flor. Como aquela morte maldosa me incomodou! Fiquei os dois dias finais do curso pensando naquilo.
        

Nossa Titch quando chegou em 2009.


 
- Pousei em Congonhas na sexta à noite. Assim que liguei o celular no avião, recebi a mensagem que me dizia que nossa hamster anã russa não estava bem e que parecia que estava morrendo de uma hora para outra. Após uma semana de trabalho ausente de casa, cheguei para encontrar minha Titch agonizando. Ainda corremos de madrugada em um veterinário que lhe aplicou uma pequena injeção. Ela morreu pela manhã na minha mão. Viveu conosco quase dois anos. Era o meu xodozinho.

Nossa Titch no semestre passado.
Comendo na minha mão.


Sempre que chegava em casa nesses dois anos a primeira coisa que fazia era pegá-la na mão. Ela ficava doidinha quando me via. Como fiquei arrasado! Fiquei pensando em uma forma de me confortar com a perda, pensando na fragilidade desses pequenos animais na natureza. Parece que a função deles é ser alimento do ser acima na cadeia alimentar. Quanto tempo duraria a nossa Titch na natureza? Ela viveu dois anos ao menos recebendo comida sem precisar caçar ou ser caça, água sempre disponível, habitat confortável, carinho e cafuné até o último instante. Seria um conforto para a morte de um ser ele ter vivido bem?

Olha lá o belo ipê branco.
Olha lá a towner da dona Irene.

- Passei o fim de semana com a tristeza da morte de um bichinho de estimação e aquele incômodo da morte dos beija-flores. Agora à noite, após um cochilo, fiquei sabendo da morte da dona Irene. Ela vendia pães aqui na rua de nosso condomínio. Sempre que acordávamos, olhávamos pela janela para ver se ela estava lá para irmos buscar pão. Era uma pessoa de bem com a vida. Falava do netinho, dizia que gostava de forró e conversava com todo mundo. Ficou sumida só umas semanas, mas me lembro que ela disse que estava pensando em ir para a praia. Dizem que sentiu queimação no estômago e morreu de câncer neste domingo. É chocante! Foi a mesma coisa com a minha querida tia Alice. De novo, fiquei pensando na existência dos seres vivos. A vida na natureza apenas é. A gente simplesmente existe, e só.

Hoje somos e estamos, amanhã não estamos mais. Os seres humanos são diferentes dos demais seres vivos porque têm sentimentos e abstrações, cultuam o belo, constroem coisas que precisaram da imaginação, matam por maldade e por prazer, buscam há milênios explicação para a vida, a morte, a existência das coisas. Para dar conformação à solidão e à perda da existência trágica, os seres humanos criam explicações metafísicas e deuses.
A morte é a parte da existência de tudo que é vivo. Essa certeza poderia ao menos nos tornar melhores como seres humanos. Mas isso acontece com uns e não acontece com outros. A verdade é que a morte é uma tristeza. A perda nos dá um vazio na rotina que precisa ser superado. Quando vamos vivendo mais tempo, ou seja, quando vamos sobrevivendo neste mundo, a tendência é que passemos a conviver com a morte comum mais rotineiramente. Nos casos de guerras e calamidades constantes, não precisa nem de mais idade para o hábito da convivência com a morte.
A morte simplesmente está aí, por todos os lados, todos os instantes, assim como a vida e as existências efêmeras.

sábado, 29 de outubro de 2011

Companheiro Lula


Querido presidente Lula, desejo-lhe muita energia para vencer o período de tratamento contra a doença que lhe aflige e torço por uma rápida recuperação para que o senhor possa continuar vivendo bem com os seus entes queridos e seguir ajudando o mundo a ser um lugar melhor para se viver.

Abraços do brasileiro William Mendes

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mãos dadas - Carlos Drummond de Andrade


Li esse poema para os participantes de nosso curso de formação de dirigentes bancários, curso que estamos fazendo nesta semana na Escola Sul da CUT em Florianópolis.

Gosto muito desse poema porque Drummond trabalha com a materialidade e com as pessoas, com o tempo, com a contemporaneidade. Por isso sua produção é atemporal.

Nós também do movimento popular temos que lidar com o tempo presente, com a realidade objetiva e com a nossa materialidade para transformá-la em favor da classe trabalhadora e dos povos oprimidos.

Jovem Drummond

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem

                                      [vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por

                                      [serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
                                      [os homens presentes,
a vida presente.



Do livro "Sentimento do Mundo".

domingo, 23 de outubro de 2011

Wikipédia é fonte confiável de pesquisa e informação?

Logo da Wikipedia
Estava conversando nesta semana com um companheiro de movimento sindical recém-eleito para seu primeiro mandato como representante dos trabalhadores bancários. Trouxemos cinco dirigentes novos para este mandato, pois meu coletivo de banco segue apostando na renovação como já vem fazendo no último período.

Muitas das conversas que tenho com os dirigentes novos me fazem recordar a visão parcial que eu tinha de várias questões sociais e do mundo do conhecimento há cerca de uma década. Eu tinha uma visão de mundo formada em grande parte pelos veículos de comunicação que estão aí há décadas e que manipulam as informações e atuam sempre com posição parcial, como fui aprender com o tempo. Esses veículos que chamamos de PIG - Partido da Imprensa Golpista -, inclusive estiveram ao lado da ditadura militar brasileira nos anos sessenta e setenta.

Além disso, a educação formal no Brasil também não é libertadora. Pelo contrário, é adestradora (infelizmente, os donos do poder tratam os trabalhadores como animais mesmo). Sempre tivemos no País uma formação educacional com foco em adestrar os trabalhadores para não quebrarem as máquinas dos capitalistas. E, é claro, essa educação preventiva para não dar prejuízos aos capitalistas era fornecida aos trabalhadores urbanos, pois na área rural ela foi quase inexistente até bem pouco tempo - e o problema ainda persiste.

Mas fiz essa pequena introdução para responder à pergunta deste texto: a Wikipédia é fonte confiável de pesquisa e informação?

Pergunto primeiro aos que torcem o nariz para a Enciclopédia Livre se as poucas corporações em regime de cartel que dominam tudo o que se escreve, edita, publica e distribui no mundo, em regime de copy right, são fontes confiáveis de pesquisa e informação. Vocês acham que são confiáveis para nós classe trabalhadora?

A Wikipédia trabalha com um conceito democrático de conhecimento livre e compartilhado, sem um dono da verdade e da razão. What I Know Is = WIKI = O Que Eu Sei é...

No mundo temos umas 7 corporações que detêm todas as grandes cadeias de comunicação. Inclusive elas seguem comprando ou se fundindo umas às outras.

No Brasil é a mesma coisa, com a situação esdrúxula da Constituição Federal de 1988 dizer que não pode haver monopólios ou cartéis e é só o que existe no País em termos de propriedade cruzada das cadeias de comunicação. Aqui, 6 famílias ou grupos detêm as cadeias de rádio e televisão, além dos jornais impressos, revistas e sites de internet, e existem estados da federação onde 1 (uma) empresa comercial detém 100% da cadeia de comunicação como, por exemplo, o Estado de Santa Catarina.

Essas mesmas poucas corporações também detêm todas as editoras e as distribuidoras.

Volto a perguntar aos que não confiam muito na Wikipédia - Enciclopédia Livre, vocês confiam nas revistas, livros e nos materiais produzidos, editados e publicados por essas poucas corporações não-isentas e com lado definido no embate entre o Capital e o Trabalho? Fontes de informação como Almanaque Abril ou coisas do gênero como apostilados de ensino médio, fundamental e de cursinhos?

Vão confiar nas porcarias produzidas pela golpista Editora Abril? Confiar nas publicações do grupo Estado ou nas editoras da Folha de São Paulo? Preciso perguntar sobre a Editora Globo?


Exemplo de fonte "confiável" de informação - copy right COC

Só a título de ilustração, quando folheei neste ano as apostilas do curso de ensino médio de meu filho, que estuda em uma das maiores redes privadas de ensino do País - COC -, havia em uma das apostilas a seguinte informação sobre os dois últimos presidentes do Brasil:

-Luiz Inácio Lula da Silva havia feito um governo marcado por crises de corrupção e que havia perdido apoio de parte importante dos brasileiros devido à isso (como será que o PT ganhou as eleições em 2010?).

-Fernando Henrique Cardoso havia feito um governo que abriu o Brasil para um salto na modernidade com as privatizações e que este seria responsável pelo País que temos hoje.

Não é piada não, é o que eles da rede privada e cartelizada estão ensinando aos nossos filhos e tentando reescrever a história.


Prefiro me arriscar com a Wikipédia, pois a Enciclopédia Livre ainda me dá a oportunidade de buscar em outra língua uma informação que pesquiso.

A Wikipédia ainda tem a decência de me informar quando existe ambiguidade no termo pesquisado ou quando o artigo não está atendendo o padrão Wikipédia de informação. Quando isso ocorre eu busco em espanhol ou inglês e normalmente encontro o mesmo termo pesquisado dentro dos padrões de referência.

Amig@s Leitor@s, eu não tenho dúvidas de que prefiro me arriscar com a Wikipédia e páginas da internet do sistema copy left do que ser enganado e ludibriado pelo cartel mundial dono das publicações com direitos autorais copy right.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Refeição Cultural - Precisaremos de Unidade das lideranças populares

A foice e martelo é outro símbolo do movimento comunista. O Martelo representa a classe operária industrial, enquanto a foice representa os trabalhadores agrícolas; juntos, a foice e o martelo representam a união desses dois grupos, e portanto o próprio ideal comunista. (wikipedia)

(atualizado em 22/10/11)

Estou lendo um livro do Venício A. de Lima sobre as diferenças entre Liberdade de Expressão X Liberdade de Imprensa e pensando em possibilidades futuras de curto prazo de precisarmos liderar a população contra golpes de direita perpetrados com o apoio dos veículos de comunicação de massa, aqui no Brasil apelidados por nós de PIG - Partido da Imprensa Golpista.

Coloquei em meu blog dias atrás um outro texto de Thomaz Wood Jr. que reflete muito bem meu temor em relação à alienação da juventude geração "Y". O texto interroga o leitor com a pergunta "Pensar dói?" e fala sobre a inutilidade do acúmulo de informação do mundo contemporâneo.

As lideranças autênticas dos movimentos populares* deveriam estar centrados em liderar as massas contra as minorias capitalistas que se rearticulam facilmente com o poder instituído para sugar toda a riqueza produzida pelos trabalhadores e deixar em misérias as massas proletárias e excluídas.

No entanto, essas lideranças populares só conseguem enxergar máquinas partidárias e sindicais a disputar. Para isso, focam grande parte de sua energia para derrotar umas às outras, segmentos internos dos próprios movimentos populares. Uns se digladiam com os outros.

Isso feito, diuturnamente, não nos permite um preparo coeso para o enfrentamento necessário com o real adversário das classes populares: os capitalistas detentores da estrutura de poder econômico. Constato isso há tempos. É uma tristeza!

Estou no movimento sindical, um dos movimentos populares, há uma década. Se colocasse na ponta do lápis o tempo que gastei de minha energia criadora dividida entre combater o inimigo, o Sistema Capitalista, e os adversários do campo popular, os grupos dentro do movimento sindical, sem dúvida veria que gastei a maior parte da minha militância nesta década combatendo ou me defendendo de ataques do próprio movimento popular.

Isso precisa estar claro para entendermos porque o Sistema Capitalista é tão difícil de ser vencido. E observo isso com pesar, pois quanto mais estudo a história da luta de classes, mais inconformado fico de ver passarem os séculos e o Capitalismo nojento não chegar ao fim.

Parte da culpa é nossa, das correntes e grupos que militam no movimento social e das pseudoesquerdas que flanam nos movimentos populares.

Até quando terei que despender minha energia com disputas internas ao invés de ter a unidade necessária para vencer o Sistema Capitalista?

É isso, infelizmente!

*Fiquei meio incomodado em escrever movimentos sociais, haja vista que também são movimentos de parte da sociedade as marchas do "cansei", contra a "corrupção" que exclui corruptores e governos tucanos etc.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pensar dói? - Thomaz Wood Jr.


Thomaz Wood Jr. 

Autor: Thomaz Wood Jr. (Revista Carta Capital)

Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias. Gabler é o autor, entre outras obras, de Vida, o Filme (Companhia das Letras), no qual afirma que, durante décadas de bombardeio pelos meios de comunicação, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. O livro tem o significativo subtítulo: Como o entretenimento conquistou a realidade.

No texto atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.

Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.

Gabler critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.

No entanto, o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios. Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que, quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.

Pode-se acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só. Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em outras eras.


COMENTÁRIO DO BLOG:

Gosto muito dos textos de Thomaz Wood Jr. pois várias vezes eles refletem com maestria coisas que penso a respeito da sociedade e das organizações sociais. Este texto acima reproduz o que penso há tempos sobre a quantidade absurda e inútil de informações nos tirando do foco do que realmente importa até para nós mesmos.

domingo, 16 de outubro de 2011

Crônica, segundo Carlos Drummond de Andrade



Encontrei uma revista antiga da Caros Amigos, de agosto de 1999, que, por sinal, reproduziu uma entrevista também mais antiga ainda, de 1984, de Carlos Drummond de Andrade. A entrevista foi feita por Renan Garcia Miranda, professor de história e escritor e por José Eduardo Duó, roteirista e proprietário de restaurante em São Paulo. A matéria na revista é de José Arbex Jr.

Drummond é um de meus poetas preferidos. No trecho que reproduzo abaixo, ele fala sobre Crônica. É uma bela aula com conceitos do poeta e escritor para nos instruir sobre o gênero. Vale a pena ler.



Carlos Drummond de Andrade


- A pergunta seguinte é composta de três partes: "A crônica diária escrita nos jornais envelhece muito rapidamente por estar ligada às situações do cotidiano." Pergunta: "Como fica a relação da poesia com o tempo? O que significa dizer que a poesia é atemporal?" Não estou vendo muito bem a relação.


- Não tem muito nexo. A crônica realmente pela sua natureza é fugídia, ela passa depressa. Agora, não obstante, nós devemos reconhecer que crônicas escritas há quase cem anos por um cidadão chamado Machado de Assis estão hoje vivas como naquele tempo. Os acontecimentos perderam a atualidade, mas a crônica não perdeu, porque ela traduz uma visão tão sutil, tão maliciosa, tão viva de realidade, que o acontecimento fica valendo pela interpretação que Machado de Assis deu. Nesse sentido, a crônica não é assim tão passageira. Por outro lado, eu devo dizer também que já tenho seis ou sete livros constituídos de crônicas, e essas crônicas, não quero me gabar de coisa nenhuma, parece que elas não perderam a atualidade porque nem sempre elas comentam um fato do dia, ou quando comentam elas procuram dar uma extensão maior a esse fato, e generalizar, fazer uma reflexão qualquer sobre a vida, sobre os costumes, sobre a política, sobre os homens, à margem de um acontecimento transitório. E, sendo assim, a crônica tem uma certa chance de permanecer. Agora, por outro lado, eu devo reconhecer que cerca de 80 por cento, senão mais, das crônicas escritas por mim não podem perdurar porque, em primeiro lugar, eu não as achei adequadas a formarem um livro, e depois porque o jornal que é tão vivo no dia é uma sepultura no dia seguinte. Então, essas coisas escritas ao sabor do tempo perdem completamente não só a atualidade como o sabor, o sentido, a significação. Quando se fala de um determinado indivíduo que foi importante no Brasil, isso é tão comum uma pessoa ser importante vinte anos, durante dez anos, depois ficar completamente esquecida na política, na administração, no empresariado, na literatura, então a crônica que aborda um fato ou uma circunstância de vida dessa pessoa perdeu completamente o sentido, porque essa própria pessoa perdeu o sentido. Então não é propriamente a crônica, é o acontecimento que ela reflete que perdeu a significação. Agora, a outra parte da pergunta me parece alheia, em todo caso, vamos a ela...



(Depois Drummond falaria sobre a poesia...)


Fonte:

Revista Caros Amigos, edição 29, de agosto de 1999. Editora Casa Amarela.

sábado, 15 de outubro de 2011

A chuva e o choro


A chuva chove chuva.
Chuviscos, chiados...
Suave som das gotas.
Gotas úmidas, molhadas.
A chuva chove.

O choro chora choro.
Lágrimas, suspiros...
Leve ardor das gotas.
Gotas úmidas, molhadas.
O choro chora.

O mundo chora.
Meu mundo chora.
Nossa natureza transige.
Somos um só.

A chuva chora.
O choro chove.

Suave som, suspiros...
As gotas de lágrimas.
Lágrimas que choro.

Olhos molhados.
Gotas molhadas.
Que choro.


Wmofox, 13.09.2002

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CORDEL - A Saga do Pererê Contra o Personalité


Autor: Tomaz de Aquino

O Itaú diz que é banco
Feito só para você
Não sei a quem se refere
Nem o que isso quer dizer
Sei que a conversa é bonita
Estória para inglês ver
Mas só trouxa acredita
No tal personalité


Sempre de dedo apontado
E com sorriso maroto
Lucrou mais de 6 bilhões
E ainda acha pouco
Desconta o programa próprio
Do lucro que distribui
Manda bancário prá rua
Comer ovo com cuscuz


Paga salário de fome
Mas exige aparência
Pobre é muito difícil
De entrar na sua agência
Diz que é Itaú de vantagens
Só se for prá suas nêgas
Pro trabalhador coitado
Só dá o pão sem manteiga


Quando comprou o Unibanco
Disse não vou demitir
Pensando que o povo crê
Em estória prá boi dormir
De uma lapada só
Foi mais de mil companheiros
Sua promessa foi em vão
Pois só respeita o dinheiro


Era de uma família só
Hoje se divide em duas
Setúbal, Moreira Sales
Mas a farra continua
Vive esbanjando adoidado
Pro povo só dá esmola
Mas com a greve vai ter troco
Sindicato mete a sola


Ganhou prêmio ambiental
Vive se gloriando disso
Mas na chibata é o tal
Não assume compromisso
A sustentabilidade
Trata como palavrão
Engana os abirobados
Mas nós não engana não


Divide a população
Em cliente e usuário
Pro rico só mordomia
O pobre faz de otário
Mas está chegando a hora
Do povo se rebelar
Apoiando a nossa greve
Prá situação mudar


Vou findar nossa conversa
Fazendo a conclamação
De apoio à justa greve
Dos bancários da Nação
Que lutam por menos filas
E melhor atendimento
Quem quiser se engajar
Venha logo, este é o momento

FIM

Fonte: publicado pelo Sindicato dos bancários do Ceará, Campanha Nacional dos Bancários 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Pangasius - meu peixe "Dógão"


Este é meu peixe Dógão. É um pangasius com uns 12 anos de idade.

Ele já fez de tudo, inclusive pular do aquário. 

Quando chegou em casa (lá pelo ano 2000), ele tinha o tamanho de meu dedo mindinho.

sábado, 8 de outubro de 2011

A era da empatia - Frans de Waal


Foto divulgação
Leitura de A ERA DA EMPATIA – Frans de Waal
Lições da natureza para uma sociedade mais gentil

Idéias que chamam a atenção na leitura do livro:
- o grande tema de nossos tempos: O BEM COMUM.

“A questão mais importante é saber de que modo combinar uma economia próspera com uma sociedade humanitária. Isso tem relação com a saúde pública, a educação, a justiça e – como ilustrado pelo Katrina (furacão) – a proteção contra a natureza”

- como estudantes de direito, economia e política poderiam examinar a sociedade humana com alguma objetividade? Com que compará-la?

“Raramente (ou talvez nunca) eles consultam o vasto conhecimento sobre o comportamento humano acumulado pela antropologia, pela psicologia, pela biologia ou pela neurociência. Em poucas palavras, a resposta encontrada por essas disciplinas é de que os homens são animais gregários, altamente cooperativos e sensíveis à injustiça, belicosos às vezes, mas na maior parte do tempo amantes da paz”

Homo homini lupus – O HOMEM É O LOBO DO HOMEM (Hobbes)

“Muitos animais sobrevivem cooperando e compartilhando os recursos, e não aniquilando-se uns aos outros ou conservando tudo para si mesmos”

“Se o homem é o lobo do homem, isso é verdadeiro em todos os sentidos, e não apenas no sentido negativo. Não seríamos o que somos hoje se nossos ancestrais tivessem vivido isolados uns dos outros”

Bibliografia:
WAAL, Frans de. A era da empatia. Companhia Das Letras. 2010 SP.

"A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito" (Conselheiro Aires, em Esaú e Jacó)


Machado aos 25 anos
É fantástica a frase acima, não é?

Eu estou lendo o livro "A corrosão do caráter" de Richard Sennett. Essa mudança no dito popular que a personagem de Machado de Assis faz lembrou-me o tema que Sennett aborda e é uma frase também para alertar sobre a ética e o caráter das pessoas, ou seja, ao invés de criar um dito popular que diz que todo mundo é, em tese, corruptível, a frase nos traz uma mensagem muito mais profunda sobre o ser humano.

Minha divergência com o Conselheiro Aires é mais no sentido de achar que as pessoas não nascem boas ou más, porém sua formação, suas referências e suas oportunidades é que as fazem serem o que são.


ESAÚ E JACÓ
CAPÍTULO LXXV

PROVÉRBIO ERRADO

Pessoa a quem li confidencialmente o capítulo passado, escreve-me dizendo que a causa de tudo foi a cabocla do Castelo. Sem as suas predições grandiosas, a esmola de Natividade seria mínima ou nenhuma, e o gesto do corredor não se daria por falta de nota. "A ocasião faz o ladrão", conclui o meu correspondente.*

Não conclui mal. Há todavia alguma injustiça ou esquecimento, porque as razões do gesto do corredor foram todas pias. Além disso, o provérbio pode estar errado. Numa das afirmações de Aires, que também gostava de estudar adágios, é que esse não estava certo.

- Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: "A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito".


*(aqui se refere ao ato do "irmão das almas" que roubou a esmola que Natividade depositou na bacia das almas - dois mil-réis)


Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CORDEL - A Peleja do Monstro "Presença" para derrotar a Deusa Greve




Autor - Tomaz de Aquino

Lá na cidade de Deus
Que mais parece um inferno
Fica a sede do Bradesco
Banco que se diz moderno
Mas recorre ao interdito
Instrumento medieval
Para acabar com a greve
Direito mais que legal

"Presença" ele se intitula
Tirando uma de bonzinho
Que diz atender a todos
Do ricaço ao pobrezinho
Na verdade o que ele almeja
e busca a todo vapor
é o rico dinheirinho
do barão, do camelô

Prá continuar explorando
O povo e a categoria
inventa tarifa nova
E meta prá todo dia
Demite trabalhador
Faz bancário de vigia
Cobra trabalho noturno
De olho na mordomia

Agora em tempo de greve
Afronta a democracia
Em conchavo com a justiça
Pratica estripulia
Impedindo o Sindicato
De chegar perto da agência
Prá realizar seu trabalho
Com harmonia e decência

Lucrou quase 4 bi
Só no primeiro semestre
Encheu as burras de novo
Isso sempre acontece
Paga piso miserável
Lucro não quer repartir
E o direito de greve
Agora quer coibir

Mas bancário não é besta
População também não
Prá engolir a conversa
Fiada de tubarão
Com o Sindicato do lado
Vamos partir afiados
Prá buscar o que é nosso
Honrar o nosso quinhão

A greve se mantém forte
E vai ficar muito mais
Quando os bancários e o povo
Mandarem esse Caifás
Que atende por "Presença"
Sem peso na consciência
Sem carta de indulgência
Pros braços de Satanás

Vou terminar minha prosa
Pedindo à população
Que apóie a justa luta
Dos bancários da Nação
Que querem o Banco pro povo
Com crédito de baixo custo
Sem fila e sem enganação
Pagando salário justo.

FIM

Fonte: publicado pelo Sindicato dos bancários do Ceará, Campanha Nacional dos Bancários 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Manifesto do Partido Comunista - 1848 (III)

DEMOCRACIA

"O primeiro passo da revolução dos trabalhadores é a ascensão do proletariado à situação de classe dominante, ou seja, a conquista da democracia"


Capa do Manifesto do Partido Comunista
A afirmaçao acima é de uma clareza grande quando pensamos sobre vários problemas históricos e também contemporâneos envolvendo a luta de classes.

Venho tentando ler um pouquinho sobre princípios norteadores do que defendo diariamente, para não perder o prumo quando saio de casa para a luta por mudanças no mundo.

Estamos vivendo nestes dias uma greve da categoria bancária e mesmo tendo reivindicações justas e ser uma afronta dos banqueiros e governo a proposta ridícula feita por eles, fiquei muito puto com bancários de agências que conheço e que furaram a greve na maior cara-de-pau e estão ajudando o banco a derrotar os bancários, ou seja, eles mesmos. Mas sei que devo analisar o que ocorre e buscar envolvê-los melhor na luta nos próximos dias da batalha.

Deixe-me postar aqui mais um pouco do Manifesto de 1848 porque ele é tão atual que suas palavras são autoexplicativas.

Parte II
Proletários e comunistas

(...)
A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações de propriedade remanescentes; não é de se espantar que, em seu desenvolvimento, rompa-se de modo mais radical com as ideias do passado.

Deixemos de lado as objeções da burguesia ao comunismo.

Já vimos que o primeiro passo da revolução dos trabalhadores é a ascensão do proletariado à situação de classe dominante, ou seja, a conquista da democracia.

O proletariado vai usar seu predominio político para retirar, aos poucos, todo o capital da burguesia, para concentrar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado - quer dizer, do proletariado organizado como classe dominante - e para aumentar a massa das forças produtivas o mais rapidamente possível.

Naturalmente, isso só pode ocorrer, de início, por meio de intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações burguesas de produção; através, portanto, de medidas que talvez pareçam insuficientes e insustentáveis do ponto de vista econômico, mas que tragam resultados para além de si mesmas e sejam indispensáveis para revolucionar todo o modo de produção.
(...)

Bibliografia:
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Expressão Popular. 1a edição, 2008.