quarta-feira, 30 de junho de 2010

Leituras: Comunidades Imaginadas

foto de William Mendes
Tá, li um capítulo do livro Comunidades imaginadas. E agora, José?

Que fazer? Amanhã começo um curso de inglês intermediário. Para acordar o inglês adormecido no cérebro. Seria o inglês no século XXI a língua universal? Pergunto isso porque me quedei pensando quando li uma frase no livro hoje.

"Las lenguas particulares pueden morir o ser eliminadas, pero no había ni hay ninguna posibilidad de la unificación lingüística general entre los hombres (...)" p.71

PERGUNTO: SERÁ?

Parece que o povo que mais estuda inglês hoje em dia no mundo são os chineses. Já vimos que desapareceram milhares de línguas nas últimas décadas.

Na USP nós estudamos a diferença entre os conceitos de língua de comércio e língua de cultura. A língua inglesa era tida como a língua de comércio - desde o fim da 2a GM pelo menos - e como ela é a que mais se estuda pelo mundo afora, acho que tudo seguirá pautado pelo... capitalismo e pelo comércio. As culturas e coisas locais que se adaptem ao mundo padrão global ou que feneçam...

CAPITALISMO NASCENTE E LÍNGUAS VERNÁCULAS NASCENTES
Aliás, Benedict Anderson fala que a expansão das línguas vernáculas é fruto do mix entre o capitalismo comercial nascente e as línguas vernáculas nascentes, pois a produção de livros e periódicos nas línguas vernáculas viraram o primeiro produto digerido da produção em escala comercial do nascente capitalismo. VISSE!?

Capítulo III. El origen de la conciencia nacional

Palavra chave: SIMULTANEIDAD - comunidades del tipo "horizontal-secular, de tiempo transverso".

Francis Bacon: "creyera que la imprenta había cambiado 'la aparencia y el estado del mundo' ". p.63

Dilema das editorias nascentes: PUBLICAR EM LATIM OU EM LÍNGUAS VERNÁCULAS?

"El impulso revolucionario de las lenguas vernáculas por el capitalismo se vio reforzado por tres factores externos, dos de los cuales contribuyeron directamente al surgimiento de la conciencia nacional. El primero, y en última instancia el menos importante, fue un cambio en el latín mismo...". p.65

1.Graças aos humanistas, o interesse pelo latim passou a ser o próprio "texto" em latim, ou seja, o texto clássico, era mais uma questão de FILOLOGIA e não mais pelo viés que a igreja dava de coisa sagrada e inquestionável.

2."El segundo factor fue la repercución de la Reforma que al mismo tiempo debía gran parte de su éxito al capitalismo impreso...". p.65

Martinho Lutero foi fundamental para as publicações em língua vernácula.

"Sus obras representaban no menos de un tercio del total de los libros en idioma alemán vendidos entre 1518 y 1525". p.66 (estamos falando aqui da bíblia em alemão)

LUTERO: PRIMEIRO BEST SELLER

"En efecto, Lutero se convirtió en el primer autor de éxitos de librería hasta entonces conocido. O dicho de otro modo: el primer escritor que pudo 'vender' sus libros nuevos por su solo nombre" p.66

CAPITALISMO NASCENTE E O PROTESTANTISMO

"En esta titánica 'batalla por la conciencia de los hombres', el protestantismo estaba siempre fundamentalmente a la ofensiva, justo porque sabía usar el mercado en expansión de impresiones en lenguas vernáculas, creado por el capitalismo, mientras que la Contrarreforma defendia la ciudadela del latín" p.67

COMPRE, COMPRE LIVROS EM LÍNGUAS VERNÁCULAS, É BARATINHO!...

"La coalición creada entre el protestantismo y el capitalismo impreso, que explotaba las ediciones populares baratas, creó rápidamente grandes grupos de lectores nuevos - sobre todo entre los comerciantes y las mujeres, que tipicamente sabían poco o nada de latín - y al mismo tiempo los movilizó para fines político-religiosos" p.67

E aí, heim! É o velho capitalismo formatando o mundo, inclusive o das línguas!...

3. Línguas "estatais", não "nacionais"

"El tercer factor fue la difusión lenta, geográficamente dispareja, de lenguas vernáculas particulares como instrumentos de la centralización administrativa, realizada por ciertos aspirantes a monarcas absolutistas privilegiados" p.68

"En todos los casos, la 'elección' de la lengua es gradual, inconciente, pragmática, por no decir aleatoria" p.70

"No había ninguna idea de la imposición sistemática de la lengua a las diversas poblaciones sometidas de las dinastías. Sin embargo, la elevación de estas lenguas vernáculas a la posición de lenguas de poder, cuando eran en cierto sentido competidoras del latín (el francés en Paris, el inglés [antiguo] en Londres), hizo su propia contribución a la decadencia de la comunidad imaginada de la cristiandad" p.70

EM SÍNTESE, O ESSENCIAL É A INTERAÇÃO ENTRE A FATALIDADE, A TECNOLOCIA E O CAPITALISMO

"Nada servía para 'conjuntar' lenguas vernáculas relacionadas más que el capitalismo, el que, dentro de los límites impuestos por las gramáticas y las sintaxis, creaba lenguas impresas mecánicamente reproducidas, capaces de diseminarse por medio del mercado" p.72

CAPITALISMO, TECNOLOGIA DE IMPRESSÃO E COMUNIDADES IMAGINADAS: TUDO A VER COM O CONCEITO DE NAÇÃO MODERNA

"Podemos resumir las conclusiones que pueden sacarse de los argumentos expuestos hasta ahora diciendo que la convergencia del capitalismo y la tecnología impresa en la fatal diversidad del lenguaje humano hizo posible una nueva forma de comunidad imaginada, que en su morfología básica preparó el escenario para la nación moderna." p.75

Bibliografia:
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. Fondo de Cultura Económica. Quarta reimpresión 2007 de la primera edición en español 1993, fructo de la segunda edición en inglés 1991.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Paisagens do Planalto Central - DF

Já que trabalhei este fim de semana em Brasília, pisquei o olhar alguns instantes onde estava e fiz umas fotos da natureza local.

Fotos de William Mendes. Esta foto ficou um cartão postal. Foi um instante mágico pela manhã, cerca de 9h de sábado.


Esta árvore-gravetos-sem-folhas também chamou a atenção. Atrás dela tem uma primavera cor de rosa.

Temos ali uma primavera avermelhada. Bem onde se decide o caminho.

Aqui temos a primavera em detalhe.

Gostei desta foto porque me lembrei de um episódio do Arquivo X onde uma sombra exterminava quem passasse por ela. Coisas do sobrenatural...

Olha que paisagem mais bucólica, heim!

O fruto da árvore, que não sei o nome, como as outras que também não sei. Mas este negócio de nome de coisa da natureza (em geral, nome de quem a batizou primeiro) é algo que não me interessa muito. É UMA COISA BELA DA NATUREZA! Até porque esse negócio de algo ser belo ou feio é também algo totalmente subjetivo. É invenção do olhar humano, como batizar flor ou pedra.

É isso!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais uma corridinha...

Antes de viajar para Brasília, onde estou agora, tive um dia bem corrido - corrido, inclusive literalmente, pois caminhei e corri um pouco. Terminei os textos que utilizarei no seminário de formação sindical do fim de semana.

Fiz pela internet minha matrícula para o segundo semestre em duas matérias que ainda devo na Faculdade de Letras na Usp.

Limpei um pouco meu aquário grande do pangassius.

Tô cansadão! Mas, vamos lá. Domingo estarei de volta a SP.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Raro momento de exercício físico...

Corri. Pouco!

Andei. Pouco!

Tô maus. Muito!

Eu que não tome a linha...

The True-Born Englishman - Daniel Defoe




Así pues, de una mezcla de todas clases surgió,
esa cosa Heterogénea llamada Un Inglés:
engendrado en raptos ansiosos y furiosas Lujurias,
entre un Bretón Pintado y un Escocés:
Cuyos descendientes aprendieron pronto a inclinar la      [cabeza
y a uncir sus Bueyes al Arado Romano:
De donde surgió una Raza Híbrida,
sin nombre ni Nación, idioma o Fama.
En cuyas Venas calientes brotaron
rapidamente nuevas Mezclas,
combinaciones de un Sajón y un Danés.
Mientras que sus Hijas Fecundas,
con la complacencia de sus Padres,
recibían a todas las Naciones con Lujuria Promiscua.
Esta Progenie Nauseabunda contenía directamente
la Sangre bien extractada de los Ingleses (...)

Daniel Defoe, The True-Born Englishman.


COMENTÁRIO


Fantástico!!!

Releituras: li algumas páginas dessa obra curiosa e instigante, que nos põe a pensar sobre essa invenção fantástica de dar aos seres humanos pertencimento a alguma coisa, uma cultura, um local, um grupo etc.

O capítulo que li fala um pouco sobre os efeitos sociais e a forma de concepção de mundo antigo a partir das comunidades religiosas e a partir das dinastias e reinos.

Para a época, era meio que inimaginável outras formas de organização social. O mundo era organizado a partir dessas referências: religião e algum rei ou reino.

Depois tem uma parte no capítulo que fala sobre as formas de apreensão do tempo. Foram ocorrendo mudanças através dos tempos que permitiram que se começasse a "pensar" as nações e as comunidades.



Romances e periódicos: a ideia da simultaneidade no tempo

Dois fatores influenciaram bastante a nova forma de "pensar" uma nação e pertencer a uma comunidade: os romances literários e os periódicos. A palavra chave para essa mudança é SIMULTANEIDADE, que vem com o advento e popularização dos romances e jornais.

"Podrá entenderse mejor la importancia de esta transformación, para el surgimiento de la comunidad imaginada de la nación si consideramos la estructura básica de dos formas de la imaginación que florecieron en el siglo XVIII: la novela y el periódico. Estas formas proveyeron los medios técnicos necesarios para la 'representación' de la clase de comunidad imaginada que es la nación". p.46/47.


Bibliografia:
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. Fondo de Cultura Económica. Quarta reimpresión 2007 de la primera edición en español 1993, fructo de la segunda edición en inglés 1991.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Refeição Cultural 54

Foto wikipedia

INDIGESTÃO CULTURAL - A MORTE DE JOSÉ SARAMAGO e outras mortes...

"Cala-te, disse suavemente a mulher do médico, calemo-nos todos, há ocasiões em que as palavras não servem de nada, quem me dera a mim poder também chorar, dizer tudo com lágrimas, não ter de falar para ser entendida" (Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago)

Não sei por onde começar essa indigestão cultural: a morte de José Saramago.

Quando soube da morte de um de meus heróis, eu estava em Belém do Pará. Ele morreu pela manhã e eu só fui saber à noite.

Fiquei com um nó na garganta quando no hotel vi pela tv que havia morrido mais um de meus ícones velhinhos. Digo mais um porque admirava muito o outro josé morto recentemente, o José Mindlin, bibliófilo que dedicou sua vida aos livros.

Tem uma frase de um autor americano - não me lembro o nome, comentando a morte de um colega seu - J. D. Salinger-, que me marcou bastante. Ele dizia que percebemos que estamos ficando velhos quando começamos a enterrar nossos entes queridos.

Eu percebo que começo a ficar velho. Já ando enterrando meus entes queridos faz uns cinco anos.

Sem contar meus entes queridos com laços familiares, quedei pensando há bem pouco tempo que seria muito triste ver morrer alguns heróis e referências humanas. Eu os cito aqui: José Saramago, José Mindlin, Eric Hobsbawn, Maria da Conceição Tavares, Antonio Candido.

Cara, morreram os dois josés em um prazo muito pequeno.

Eu saí há pouco para caminhar, pois tive uma explosão de raiva em casa enquanto comia e passei dos limites comigo mesmo. Fiquei muito decepcionado e saí para andar um pouco e refletir.

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" ("Livro dos Conselhos" citado por José Saramago no Ensaio sobre a cegueira)

Ando cansado e também deprimido. O pior é que em termos de papel social as coisas andam muito bem - estou a todo vapor em minha função de formador sindical. O problema é o bicho humano por trás do papel social. Percebo que não mudei muita coisa. É a natureza, essa não muda. Não mudei minha natureza... Mas que ninguém ouse falar merda nenhuma, porque estou desempenhando meu papel social da melhor forma possível. Eu sei disso.

"A cegueira não se pega só por olhar um cego alguém que o não é, a cegueira é uma questão privada entre a pessoa e os olhos com que nasceu" (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)

Fiquei pensando em um monte de coisas enquanto caminhava. Me vinham à cabeça lances, imagens de mim mesmo de ontem e de hoje, fiquei pensando em minha existência, na casualidade de tudo na porra da minha existência. O acaso me ajudou bastante em sempre canalizar o meu ódio para fazer o bem e não o mal. Minha energia sempre foi a raiva, o ódio, a ira.

"(...) mas, nenhum de nós, candeias, cães ou humanos, sabe, ao princípio, tudo para que tinha vindo" (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)

Passei os últimos oito anos me esforçando muito para ser um bom militante de esquerda e bom representante da classe trabalhadora. Eu tenho a convicção que desde o dia em que fui eleito e liberado para um mandato sindical em 5.ago.02 venho fazendo um trabalho honesto e com foco na ética e na boa prática sindical.

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade" (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)

Aprendi bastante e mudei como pessoa. Fui educado politicamente. O movimento sindical cutista complementou a educação que meu pai e minha mãe me deram. E olha que meus pais conseguiram frear minha natureza intolerante e de explosões. Me tiraram do caminho errado socialmente.

"(...) lembrou-se daquela quadra popular que diz, O que está para além da morte, nunca ninguém viu nem verá, de tantos que para lá foram, nunca nenhum voltou cá" (Todos os nomes, de José Saramago)

Como esta indigestão cultural é sobre as mortes e sobre a natureza das coisas, estive pensando também que até hoje não me conformo com a morte de minha tia Alice. Ela foi a pessoa mais simples que conheci e convivi. A simplicidade dela me encantava e me dava ânimo de lutar para mudar o mundo para que a vida fosse melhor para pessoas simples como ela.

O mesmo se dá com a morte de meu tio Valdeci, outra pessoa que era a simplicidade em essência. Eu detesto gente entojada, metida a besta e arrogante. Tenho nojo de gente assim. Só sigo lutando por saber que tem muita gente simples no mundo.

Quando penso no que fazer depois que deixar minha missão no movimento sindical, ao término de meu mandato, fico dividido em fazer alguma outra coisa social para os outros ou buscar ganhar o suficiente para fazer algo social para os meus agregados, que deixei na mão por não ter ido atrás de boa condição financeira.

"Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós" (Todos os nomes, de José Saramago)

O problema é se eu perder meus entes queridos no meio do caminho do desafio de buscar um outro concurso público e um motivo para ganhar uma remuneração melhor. Não gosto e não ligo para dinheiro, mas sei que ferrei minha família pelas opções que fiz em não tê-lo.

Estou me sentindo um pouco como o cartunista argentino Quino, criador de Mafalda. Ele disse em entrevista recente que o mundo dos humanos continua sem muita novidade em relação à melhorias sociais e comportamentais. Fica difícil fazer tirinhas de denúncias políticas e sociais porque as coisas estão sempre na mesma, de modo que após décadas denunciando as mesmas coisas sem melhorarem fica sem sentido fazer seu trabalho.

"É como a vida, minha filha, começa não se sabe para quê e termina não se sabe porquê" (Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago)

Chega de escrever. Chega de lamentações. Amanhã acordarei como sempre e vou fazer o meu papel social de lutar por um mundo melhor, esteja eu feliz ou não. Farei até o último dia o que tenho que fazer.

“(...) dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos” (Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Comunidades imaginadas - Benedict Anderson

Foto de William Mendes: leituras - Comunidades Imaginadas.
Fiquei com uma baita vontade de ler o livro de Benedict Anderson por estarmos vivendo a Copa do Mundo de futebol.

É impressionante o clima que fica nos países devido ao evento esportivo.

Vendo aqui em meu país o fuzuê que está nas pessoas e nas ruas, fiquei pensando nas questões de nacionalismo, patriotismo, nação e que tais.

LAS RAÍCES CULTURALES

Neste capítulo é interessante as reflexões acerca da invenção ou descoberta da religiosidade nas pessoas e nos povos e comunidades. Enquanto as teorias filosóficas e econômicas, bem como as ideologias não respondem aos dilemas humanos de vida e morte, o antes e o depois, a religião sabiamente preenche este espaço e dá "conformação" à existência.

"El gran mérito de las concepciones del mundo religiosas tradicionales (que naturalmente deben distinguirse de su papel en la legitimización de sistemas específicos de dominación y explotación) ha sido su preocupación por el hombre-en-el-cosmos, el hombre como un ser de especie, y la contingencia de la vida". p.27

A partir do século XVIII, o século do Iluminismo, quando começa-se a questionar a inquestionável crença em Deus e na origem humana, abre-se espaço para dar outro tipo de pertencimento aos humanos e a ideia de "continuidade" de vida e morte quando se pertence a algo como um povo, uma comunidade, uma nação cai bem nessa busca de conformação.

A RELIGIÃO E AS RESPOSTAS

"(...) revela su respuesta imaginativa a la carga aplastante del sufrimiento humano: enfermidad, mutilación, pena, edad y muerte. ¿Por qué nací ciego? ¿Por qué está mi mejor amigo paralítico? ¿Por qué está mi hija tarada (defeituosa)? Las religiones tratan de explicar. La gran falta de todos los estilos de pensamiento evolutivo/progresistas, sin excluir al marxismo, es que tales interrogantes se contestan con un silencio impaciente". p.28

E segue:

"(...) el pensamiento religioso responde también a oscuras promesas de inmortalidad, generalmente transformando la fatalidad en continuidad (karma, pecado original, etc.)". p.28

A MAGIA DO NACIONALISMO

"El absurdo de la salvación: nada hace más necesario otro estilo de continuidad. Lo que se requería entonces era una transformación secular de la fatalidade en continuidad, de la contingencia en significado (...) La magia del nacionalismo es la conversión del azar (acaso) en destino". p.29

E Anderson explica mais claramente sua ideia:

"Lo que estoy proponiendo es que el nacionalismo debe entenderse alineándolo, no con ideologías políticas conscientes, sino con los grandes sistemas culturales que lo precedieron, de donde surgió por oposición". p.30

Bibliografia:
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. Fondo de Cultura Económica. Quarta reimpresión 2007 de la primera edición en español 1993, fructo de la segunda edición en inglés 1991.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Leitura: Raízes do Brasil, de Sérgio B. de Holanda



Refeição Cultural

Terminei hoje a leitura de um dos livros mais importantes do Brasil em relação a obras e ensaios que tentam compreender o país e sua gênese. 

Estou encantado com a obra. Ela é descortinadora. Vamos lendo e vendo as coisas ao nosso redor, e em todos os espaços da sociedade. Ajudou bastante em minha formação preencher essa lacuna cultural que sempre tive. 

Felizmente, é o segundo livro que termino esta semana, depois que voltei do fim do curso de formação de dirigentes que coordenei nos últimos nove meses. Foram nove semanas de imersão mais um bom período de preparação que me tirou bastante da rotina em São Paulo. 

O capítulo final tratou dos seguintes temas: 

CAPÍTULO 7 - NOSSA REVOLUÇÃO 

- As agitações políticas na América Latina 
- Iberismo e americanismo 
- Do senhor de engenho ao fazendeiro 
- O aparelhamento do Estado no Brasil 
- Política e sociedade -O caudilhismo e seu avesso 
- Uma revolução vertical 
- As oligarquias: prolongamentos do personalismo no espaço e no tempo 
- A democracia e a formação nacional 
- As novas ditaduras 
- Perspectivas 

Alguns pontos interessantes do último capítulo ajudam a entender o autoritarismo ainda atual e o coronelismo vigente, quando lemos, por exemplo, a explicação da transformação do senhor do engenho em fazendeiro. Mudou-se só a forma de organização, mas o poder personalista e oligárquico se manteve o mesmo. 

"O desaparecimento do velho engenho, engolido pela usina moderna, a queda de prestígio do antigo sistema agrário e a ascensão de um novo tipo de senhores de empresas concebidas à maneira de estabelecimentos industriais urbanos indicam bem claramente em que rumo se faz essa revolução (...)". p.176 

E mais à frente, complementa: 

"O Estado brasileiro preserva como relíquias respeitáveis algumas das formas exteriores do sistema tradicional, depois de desaparecida a base que as sustentava: uma periferia sem um centro. A maturidade precoce, o estranho requinte de nosso aparelhamento de Estado, é uma das consequências de tal situação". p.176 

A FIRULA QUE É A NOSSA "DEMOCRACIA LIBERAL" 

"As palavras mágicas Liberdade, Igualdade e Fraternidade sofreram a interpretação que pareceu ajustar-se melhor aos nossos velhos padrões patriarcais e coloniais, e as mudanças que inspiraram foram antes de aparato do que de substância". p.179 

A minha edição tem nota do autor ainda em 1955. Ou seja, faz mais de meio século que ele escreveu, descreveu e intuiu várias coisas sobre o nosso Brasil varonil. 

Quando SBH fala de caudilhismo e seu avesso, ele está supondo em um futuro mudanças lentas e graduais na política e na estrutura social brasileira. 

Fiquei pensando o que ele escreveria após os dois mandatos do governo democrático e popular de Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores, que começou a fazer mudanças sociais sem choques e de forma negociada com os setores conservadores da sociedade brasileira. 

"Se o processo revolucionário a que vamos assistindo, e cujas etapas mais importantes foram sugeridas nestas páginas, tem um significado claro, será este o da dissolução lenta, posto que irrevogável, das sobrevivências arcaicas, que o nosso estatuto de país independente até hoje não conseguiu extirpar (...)". p.180 

E adiante: 

"A forma visível dessa revolução não será, talvez, a das convulsões catastróficas, que procuram transformar de um mortal golpe, e segundo preceitos de antemão formulados, os valores longamente estabelecidos (...)". p.180 

Aqui vejo os dois mandatos do governo de Lula da Silva do PT. 

Gostei muito também da discussão sobre o personalismo e sua forma mais elaborada, a oligarquia. 

Isso é uma praga em tudo, inclusive no movimento sindical. 


Bibliografia: 

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 26ª edição, 27ª reimpressão 2007.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Leituras do MRE - Ministério das Relações Exteriores do Brasil

NOTA 355 - Intervenção e Explicação de Voto do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas (9/06/10)

O Brasil vota contra as sanções impostas ao Irã, pois entende que esse instrumento é ineficaz e só traz sofrimento ao povo iraniano.

A nossa posição é a favor da paz e acredita na negociação política para o problema das controvérsias. A Declaração de Teerã de 17 de maio de 2010 é um esforço inédito envolvendo o Irã, a Turquia e o Brasil e deveria servir de exemplo aos demais países capitaneados pelo imperialista EUA, que mostra que não mudou nada com a administração de Barack Obama.

VALE LEMBRAR O PRÊAMBULO DA CF BRASILERIA DE 1988, QUE AFIRMA A BUSCA DE SOLUÇÕES PACÍFICAS PARA AS CONTROVÉRSIAS:

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
.



Leia a íntegra abaixo:

Nota nº 355
Intervenção e Explicação de Voto do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas


Em sessão realizada hoje, 9 de junho, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, a Representante Permanente do Brasil, Embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, pronunciou a seguinte explicação de voto ao projeto que resultou na Resolução 1929/2010, sobre o programa nuclear do Irã


09/06/2010



“Senhor Presidente,

O Brasil vota contra o projeto de resolução.

Ao fazê-lo, estamos honrando os propósitos que inspiraram nossos esforços que resultaram na Declaração de Teerã de 17 de maio.

Estamos votando contra por não vermos as sanções como instrumento eficaz neste caso. As sanções, muito provavelmente, levarão ao sofrimento do povo iraniano e serão usadas por aqueles que, em todos os lados, não desejam a prevalência do diálogo.

Experiências passadas nas Nações Unidas, em particular o caso do Iraque, mostram que a espiral de sanções, ameaças e isolamento pode trazer trágicas conseqüências.

Também votamos contra porque a adoção de sanções, a esta altura, vai de encontro aos bem-sucedidos esforços do Brasil e da Turquia para engajar o Irã em uma solução negociada para seu programa nuclear.

Conforme o Brasil tem declarado repetidas vezes, a Declaração de Teerã adotada em 17 de maio constitui oportunidade única que não deve ser desperdiçada. Foi aprovada pelas mais altas instâncias da liderança iraniana e endossada pelo Parlamento iraniano.

A Declaração de Teerã alcançou uma solução que permitiria ao Irã exercer plenamente seu direito ao uso pacífico da energia nuclear, ao mesmo tempo que daria garantias plenamente verificáveis de que o programa nuclear iraniano tem propósitos exclusivamente pacíficos.

Estamos firmemente convencidos de que a única maneira possível de alcançar esse objetivo comum é garantir a cooperação do Irã por meio do diálogo e de negociações eficazes e objetivas.

A Declaração de Teerã mostrou que o diálogo e a persuasão podem mais do que ações punitivas.

Seu propósito e seu resultado foram a construção de confiança necessária para lidar com um conjunto de aspectos do programa nuclear do Irã.

Como explicamos ontem, a Declaração Conjunta removeu obstáculos políticos para a materialização de uma proposta feita pela AIEA em outubro de 2009. Muitos governos, bem como instituições e indivíduos de alta respeitabilidade, reconheceram seu valor como passo importante na direção de um debate mais amplo sobre o programa nuclear iraniano.

Assim, o Governo brasileiro lamenta profundamente que a Declaração Conjunta não tenha recebido o reconhecimento político que merecia e que tampouco lhe tenha sido dado o tempo necessário para frutificar.

O Brasil considera pouco natural lançar-se no caminho das sanções antes mesmo que as partes envolvidas possam sentar e discutir a implementação da Declaração. As reações do Grupo de Viena à carta iraniana de 24 de maio, que confirmou o compromisso do Irã com o conteúdo da Declaração, foram recebidas há apenas poucas horas. Não foi concedido ao Irã nenhum tempo para reagir às opiniões do Grupo de Viena, inclusive à proposta de realização de reunião técnica para discutir detalhes.

A adoção de sanções em tais circunstâncias envia um sinal errado ao que poderia ser o começo de um engajamento construtivo em Viena.

Também objeto de grave preocupação foi a maneira pela qual os membros permanentes, juntamente com um país que não é membro do Conselho de Segurança, negociaram entre si, por meses e a portas fechadas.


Senhor Presidente,

O Brasil atribui a mais alta importância ao desarmamento e à não-proliferação. Nosso histórico nesta matéria é impecável.

Nós também sempre reafirmamos – e o fazemos outra vez agora – o imperativo de que toda atividade nuclear seja conduzida sob salvaguardas pertinentes da Agência Internacional de Energia Atômica. As atividades nuclear do Irã não são exceção.

Seguimos acreditando que a Declaração de Teerã constitui estratégia sólida e deve ser levada adiante. Esperamos que todas as partes envolvidas possam enxergar a sabedoria de longo prazo deste curso de ação.

Em nossa visão, a adoção de novas sanções pelo Conselho de Segurança vai atrasar o tratamento da questão, em lugar de acelerá-lo ou garantir seu progresso.

Não devemos perder a oportunidade de dar início a um processo que pode levar a uma solução pacífica e negociada para esse tema.

As preocupações com o programa nuclear do Irã suscitadas hoje não serão resolvidas sem que o diálogo tenha início.

Ao adotar sanções, o Conselho está, na verdade, optando por um de dois trilhos que deveriam correr em paralelo – e, em nossa opinião, trata-se do trilho errado.


Muito obrigada.”

Preparação para romaria em agosto

Hoje pela manhã caminhei e corri um pouco.

Fiz uns 6 km alternando corrida 3x500m e caminhada 4,5 km.

COMENTÁRIO:
É interessante como o nosso corpo corresponde aos exercícios físicos!

Após os tiros de 500m feitos ontem, exercícios de força para sair da mesmice de só andar, acordei de madrugada às 5h com a barriga roendo de fome.

Isso é o meu corpo fazendo anabolismo para buscar a homeostase necessária. Se eu não levantasse e ingerisse algum carboidrato, estaria deixando meu organismo consumir minha massa magra - musculatura -, pois esse é o caminho natural de busca de energia, antes de ir até as calorias da gordura.

Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda



Refeição Cultural

Cara, que coisa fantástica é a leitura de Raízes do Brasil

Você vai lendo e vendo o povo brasileiro e suas características mais profundas, mais tupiniquins. 

Às vezes, ia lendo o capítulo 6 - "Novos Tempos" - e vendo a elite brasileira falando e defendendo suas ideias. 

AS IDEIAS FORA DO LUGAR 

"Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes. A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido". p.160 

A ELITE BRASILEIRA 

"Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a (democracia liberal) e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas. E assim puderam incorporar à situação tradicional, ao menos como fachada ou decoração externa, alguns lemas que pareciam os mais acertados para a época e eram exaltados nos livros e discursos". p.160 

Caramba! Estou lendo e vendo o discurso político da elite brasileira!! É chocante! 


Bibliografia: 

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 26ª edição, 27ª reimpressão 2007.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Caminhadas... preparação para a romaria em MG

Neste fim de semana tive um raro momento: estive em minha casa. Já nos dois próximos finais de semana estarei trabalhando e fora de SP.

Caminhei no sábado e no domingo e com temperatura na casa dos 15 graus. No sábado caminhei cerca de 8 km e no domingo mais 8 km.

Em agosto farei minha caminhada em MG de 85 km e estou bem despreparado para tal. Estou fora de forma e de peso. Já escolhi o tênis que acredito me trará menos problemas de bolhas nos pés.

Agora falta cuidar da preparação muscular, diminuir uns 3kg e fortalecer sistemas auxiliares de caminhadas longas.

domingo, 6 de junho de 2010

Filme: O Iluminado, de 1980, de Stanley Kubrick


Foto divulgação do filme

Refeição Cultural

Finalmente, assisti a mais um filme "inédito" para mim. É como tenho escrito aqui: em matéria de filme, estou sempre bem fora do tempo.


Quando adolescente, cheguei a ler alguns livros de Stephen King como A incendiária (1980), O cemitério (1983), Christine (1983), A zona morta (1979), e sempre tive o livro O iluminado (1977), mas não consegui lê-lo ainda.


Também assisti ao clássico Carrie, a estranha. O livro é de 1974. O filme foi sucesso nos anos oitenta. Também gostei da adaptação de Christine - aquele Plymouth Fury 1958 vermelho. A adaptação de Pet Sematary deu pro gasto.


Cheguei a fazer a loucura de ler A incendiária em um dia. O livro é enorme e li até acabar.


Mas voltando ao filme O Iluminado, acho que o mais sensacional dele é a questão da sonoplastia. A cada instante, parece que algo terrível vai acontecer, inclusive quando aparecem as legendas identificando dias e a passagem do tempo.


Gostei do filme. Não é mais meu estilo de filme atualmente, mas não posso deixar de admirar um filme clássico tão bem feito quanto esse, que assusta só de ouvir a música e de olhar para as expressões de Jack Nicholson, este sim, é um dos atores com as expressões mais fortes que conheço.

Linha reta e linha curva, conto de Machado de Assis

Charuto: Imagem da Wikipedia.

Estou relendo este conto de Machado e cito aqui uma passagem sobre o ato de fumar. Eu já achei até hoje três obras literárias com referência ao tabaco. Um conto de Roberto Bolaño específico sobre o tema, este conto machadiano e a famosa descrição do prazer de fumar do personagem Hans Castorp, na Montanha Mágica de Mann ... sobre o ato de fumar.

“Depois, voltando-se para as senhoras:

-Não as incomoda o charuto?

-Não senhor, disse Emília.

-Então, posso continuar a fumar?

-Pode, disse Adelaide.

-É um mau vício, mas é o meu único vício. Quando fumo parece que aspiro a eternidade. Enlevo-me todo e mudo de ser. Divina invenção!

-Dizem que é excelente para os desgostos amorosos, disse Emília com intenção.

-Isso não sei. Mas não é só isto. Depois da invenção do fumo não há solidão possível. É a melhor companhia deste mundo. Demais, o charuto é um verdadeiro Memento homo: convertendo-se pouco a pouco em cinzas, vai lembrando ao homem o fim real e infalível de todas as cousas: é o aviso filosófico, é a sentença fúnebre que nos acompanha em toda a parte. Já é um progresso... Mas estou eu a aborrecer com uma dissertação tão pesada. Hão de desculpar... que foi descuito.”

Bibliografia
ASSIS, Machado de. Contos Fluminenses. Obras completas. Editora Globo, 1997.

Contos Fluminenses, de Machado de Assis

Leitura feita por mim em 1999

Alguns dos contos já foram lidos mais de 3 vezes.

Aqui temos algumas frases interessantes da visão de mundo que se tinha na época, e que é um verdadeiro retrato da sociedade contemporânea a Machado de Assis.

1-Miss Dollar

“Será uma boa mãe de família, segundo a doutrina de alguns padres-mestres da civilização, isto é, fecunda e ignorante.”

“Tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.”

“Sabia esses mil nadas que entretêm geralmente as senhoras quando elas não gostam ou não podem entrar no terreno elevado da arte, da história e da filosofia.”

“A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras.” (La Rochefoucauld)

2-Luís Soares

“Mas casamento não é poesia. É verdade que é bom que duas pessoas antes de se casarem se tenham já alguma estima mútua. Isso creio que tens. Lá fogos ardentes, meu rico sobrinho, são coisas que ficam bem em verso, e mesmo em prosa; mas na vida, que não é prosa nem verso, o casamento apenas exige certa conformidade de gênio, de educação e de estima.”

3-A mulher de preto

“A primeira entrevista da amizade é o oposto da primeira entrevista do amor; nesta a mudez é a grande eloqüência; naquela inspira-se e ganha-se a confiança, pela exposição franca dos sentidos e das idéias.”

“Sentia em si os sintomas dessa hipertrofia do coração que se chama amor e procurou combater a enfermidade nascente.”

Outros contos:

4-O segredo de Augusta

5-Confissões de uma viúva moça

6-Linha reta e linha curva

Diálogo que faz uma referência ao fumo. Lembrei-me de Hans Castorp, na Montanha Mágica... sobre o ato de fumar.

“Depois, voltando-se para as senhoras:
-Não as incomoda o charuto?
-Não senhor, disse Emília.
-Então, posso continuar a fumar?
-Pode, disse Adelaide.
-É um mau vício, mas é o meu único vício. Quando fumo parece que aspiro a eternidade. Enlevo-me todo e mudo de ser. Divina invenção!
-Dizem que é excelente para os desgostos amorosos, disse Emília com intenção.
-Isso não sei. Mas não é só isto. Depois da invenção do fumo não há solidão possível. É a melhor companhia deste mundo. Demais, o charuto é um verdadeiro Memento homo: convertendo-se pouco a pouco em cinzas, vai lembrando ao homem o fim real e infalível de todas as cousas: é o aviso filosófico, é a sentença fúnebre que nos acompanha em toda a parte. Já é um progresso... Mas estou eu a aborrecer com uma dissertação tão pesada. Hão de desculpar... que foi descuito.”

“Soube ver e sabia contar. Estas duas qualidades, indispensáveis ao viajante, por desgraça são as mais raras.”

“Dize-me como moras, dir-te-ei quem és.”

“Entre a prudência discreta, e a cega confiança não é lícito duvidar, a escolha está decidida nos próprios termos da primeira.”

“As horas contam-se quando são aborrecidas.”

E o último conto do livro:

7-Frei Sião

Bibliografia
ASSIS, Machado de. Contos Fluminenses. Obras completas. Editora Globo, 1997.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Corrida de feriado

Corri hoje uns 4 km e caminhei outros 4 km. Tenho que imprimir um ritmo constante para recuperar um pouco de condição física, até porque daqui a dois meses farei minha caminhada de 85 km em Uberlândia.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lemon Tree - filme de Eran Riklis


REFEIÇÃO CULTURAL 53





A INTOLERÂNCIA VAI EXTIRPAR A RAÇA HUMANA UM DIA


Estou no raro silêncio de minha casa. Cansado e pensando em mil coisas. Coisas difusas, muito difusas. Os sons que ouço são o do relógio de parede e aquele do vento forte que perpassa pelas frestas das janelas de um apartamento do 17º andar.


Pensando no filme que vi no domingo à noite, quando cheguei de 3 dias de congresso dos funcionários do BB (2010)... 


Assisti por acaso ao filme Lemon Tree, de Eran Riklis, Israel-França-Alemanha, 2008.


O filme se baseia na estória de uma viúva palestina que luta para preservar seu pomar de limões, pomar herdado de família e única fonte de sustento.


Ela luta na "justiça israelense" porque o novo ministro da defesa de Israel decidiu morar ao lado dela e quer derrubar o pomar pois seus agentes acham que ele (o pomar) traz riscos à vida do ministro e esposa.


Eu assisti ao filme e fiquei melancólico. Os judeus tratam os palestinos há décadas da mesma forma que os alemães trataram os judeus por décadas, antes do holocausto.


Isso nos dá a impressão de que o mundo vai girando, girando e as coisas continuam na mesma, sempre.


Por acaso, no dia seguinte ao filme que vi, os israelenses invadiram um navio turco com centenas de ativistas de cerca de 60 países e metralharam dezenas de pessoas, que se defendiam com o que tinham em mãos - paus, barras de ferro, facas, etc-. Mataram mais de uma dúzia de pessoas e feriram dezenas.


O navio queria furar o cerco judeu para levar ajuda humanitária aos palestinos da Faixa de Gaza. QUE MERDA!!


Sigo tentando frear meus ímpetos de intolerância, buscando organizar e formar os trabalhadores através da educação política, MAS bem desesperançoso com o futuro do mundo humano.