quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A geografia na história da Alemanha

Estudo da apostila do concurso de diplomata, material que adquiri do IRBr/Cespe UnB.

Conceito de espaço, por Milton Santos:

"O geógrafo Milton Santos define espaço como acumulação desigual de tempos. Nessa perspectiva, o espaço geográfico é coagulação do trabalho social, materialização de ideias e de ações das sociedades sobre a natureza. O espaço materializa diferentes tempos sociais; sua gênese e evolução constituem o objeto da geografia"

A GEOGRAFIA NA HISTÓRIA DA ALEMANHA

A questão fundamental para a Alemanha do século XIX é a Unidade Nacional.

Alguns temas situam bem a questão:

-a disparidade e a falta de articulação entre as várias regiões de fala alemã, cada uma organizando-se enquanto Estado autônomo e possuindo dinâmica social autônoma;
-a ausência de uma centralidade geográfica organizadora do espaço alemão, cujo único vínculo é a comunidade linguística;
-a existência de disputas fronteiriças com países não germânicos.

SOCIOLOGIA - CIÊNCIA AUTÔNOMA DA FRANÇA
"país onde, mais de que qualquer outro lugar, as lutas de classe sempre foram levadas à decisão final".

GEOGRAFIA - CIÊNCIA AUTÔNOMA DA ALEMANHA
"onde a questão espacial ou territorial se colocava no centro dos problemas da sociedade".

Importância de Humboldt e Ritter - apreço destes por Herder - proximidade com o movimento "sturm und Drang" - identidade cultural dos alemães pela língua.

Ritter = debate mais político = tradição teológica.
Humboltd = questão da identificação da unidade nacional pela língua = traços mais românticos.

ORDENAÇÃO CIENTÍFICA DA GEOGRAFIA
"Ritter realiza toda uma padronização conceitual que interessa, não apenas à Geografia (cuja primeira formulação sistemática de objeto e método foi obra sua), mas a qualquer descrição da Terra".

UNIFICAÇÃO E PROBLEMÁTICA ESPACIAL ALEMÃ
"[...] De todo modo, no que interessa diretamente à prática social alemã, as formulações desses autores servem para dar status de ciência ao debate da unificação, e principalmente de sua problemática espacial".

LEGITIMAÇÃO DA PROPOSTA EXPANSIONISTA

"A efetivação da unidade alemã em 1871 não redundou na superação da problemática espacial pela sociedade da nascente nação; ao contrário, vai reforçá-la e redefini-la pela inclusão de novos elementos [...] A Geografia vai ocupar papel destacado na legitimação da proposta expansionista [...] As questões do domínio do espaço, dos recursos naturais e sua relação com o desenvolvimento econômico, das fronteiras, das raças, entre outras, fluem diretamente da situação prática vivenciada pela sociedade alemã".

RATZEL - SEGUNDO REICH - BISMARCK

"Essa síntese ampliadora da discussão geográfica vem aflorar com a obra de Ratzel, publicada basicamente entre 1870 e 1900. Como se pode observar, este autor vivencia diretamente o período de constituição do Segundo Reich, a era bismarckiana".

Ratzel introduz o temário da Geografia do Homem. "O período bismarckiano se singulariza por um acirramento do nacionalismo e, associado a este, uma apresentação clara de um projeto imperial [...] Nesse processo foram recuperadas as teorias da tradição filosófica alemã que interessavan aos objetivos prussianos, porém tais teorias foram articuladas por uma influência dominante do positivismo"

CIENTIFICISMO: DAR UM CARÁTER DE NEUTRALIDADE

Foi buscado para a Geografia uma linguagem objetiva e formalista do cientificismo positivista. Isso para dar um caráter de "neutralidade" as ideias expansionistas alemãs.

"as formulações de interesse do projeto alemão deveriam cobrir-se com uma aura de universalidade".

TEORIZAÇÃO DA "NATURALIDADE EXPANSIONISTA" DOS POVOS

"A tematização do expansionismo é abertamente formulada por Ratzel, porém é discutida num plano universal, onde emerge a artimanha do argumento de sua justificação: a naturalização, a expansão posta como característica natural da história dos povos".

ESPAÇO VITAL
"Naturaliza-se a própria política exterior expansionista, como uso de uma concepção evolutiva da história, posta como tendo por motor a 'luta das nações'; nesse particular a Geografia desponta com excepcional peso ao discutir, por ex., a problemática do 'espaço vital'. Todos esses argumentos se articulam na ideologia nacionalista do 'destino alemão', da 'glorificação do Reich', da 'superioridade ariana'. Aqui, na finalidade de popularização, mistura-se o cientificismo legitimador com o destino romântico de elevada penetração popular".

CONCLUSÃO DO AUTOR
"Sintetizando o que foi apresentado, reafirma-se a ideia de que o afloramento do processo de sistematização da Geografia, especificamente na Alemanha, ocorreu em virtude das condições particulares de desenvolvimento das relações capitalistas nesse país, que colocavam a questão espacial (logo, o temário dessa disciplina) no centro do debate político. Tal importância advinda da fragmentação nacional vivenciada pelos alemães e do caráter tardio de sua unificação. A discussão geográfica no século XIX avançou alimentando e sendo alimentada, dentro desse processo de unificação, e foi obra de pensadores alemães. A justificativa dessas afirmações pede o concurso de uma análise mais detalhada dos principais representantes desse movimento genético da Geografia moderna: Humboldt, Ritter e Ratzel [...]".

Bibliografia:
MORAES, Antônio Carlos Robert. A Gênese da Geografia Moderna. HUCITEC/EDUSP, São Paulo, 1989, pp 66-75. IN: Manual do candidato - Geografia, de Regina Célia Araújo. Funag/IRBr, 1995.

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